Radio Cultura AM 860: Depoimento

Como usar depoimentos para sensibilizar e gratificar voluntários ...

Com licença de Ana Paula, filha de Jorge Márcio, reproduzo aqui seu depoimento sobre seu pai:

Eu era pré-adolescente nos anos 80 e acompanhei de perto, enquanto menina curiosa, ao intenso movimento que tinha em minha casa, à revolução que meu pai fazia no rádio e em seu entorno. No bairro, nas festas, na escola, no ônibus, na igreja. Todos sempre nos lembravam quem era nosso pai. Eu sentia orgulho e às vezes desprezava, pois eu queria um pai presente e o nosso era o mais menino, o mais jovem, o mais rebelde da casa. Nossa vida era o rádio e nosso pai sempre foi um rebelde cheio de surpresas e contradições. Era amado, admirado e também odiado.

Sim, eu lamentava ser a mãe do meu pai, a filha que queria colocá-lo no eixo das famílias tradicionais. Seu Jorge nunca seria enquadrado nos bons costumes. Na verdade eu o admirava exatamente porque ele era diferente. Foi o pai mais amoroso do mundo. Quando esteve presente. Ele era o rei do lar. Eu, feminista sem saber que era, me transformei na maior contestadora do Seu Jorge. Mas fui a filha que escolheu a sua profissão por paixão. Ao acompanhar a evolução do post Radio Cultura no grupo Fotos Antigas de Belo Horizonte revivi e descobri novas travessuras de seu Jorge Márcio e companhia. Quero reunir cada depoimento e gravar um documentário.

Será imensa a alegria de registrar todos os depoimentos de quem conviveu com a turma da Cultura e do rádio, como ouvinte ou como locutor, produtor, enfim. Vamos reviver. Quem sabe, agora com análise madura e menos rebelde de minha parte, aqueles anos 80 de rock, cultura, rebeldia e resistência reinundem minha alma com a esperança que sempre a direcionou? Eu não sabia, mas ser filha do meu pai me deu o melhor que há em mim.”

Post dia 23 de abril às 10:21hs no Facebook. https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=10219051443251760&id=1075792341

#radiocultura #radio #anos80 #recordareviver

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Rádio Cultura AM : Jorge Márcio, (Pequena história de uma lenda do Rádio Mineiro)

 

Nesse áudio, o próprio locutor Jorge Marcio relembra sua trajetória de sucesso no rádio de BH, nas décadas de 70 e 80.

Com o perdão da ousadia, Ana Paula, decidi publicar o seu comentário sobre o seu pai. Lindo e comovente, acho que ele interessa a todos nós, fãs eternos da Rádio Cultura e em especial de seu amado (por todos nós) pai. Obrigado por compartilhar conosco.

Por Ana Paula Damasceno Torres – filha Jorge Márcio

O silêncio nos aproxima de pensamentos intensos, torrencialmente sóbrios, nos convida a refletir a respeito do que viveu e nas perspetivas. O que fazer de diferente para colher frutos melhores do e para o ser humano? Eu trabalho desde os 16 anos e amo estar em atividade, estudando, girando a energia do mundo. Minha energia inquietante me ajudou a buscar cedo preencher o vazio da juventude sem condições financeiras de sonhar e experimentar o mundo.

Meus pais tiveram 9 filhos. Seu Jorge, radialista assalariado, Dona Marlene, dona de casa. Todos os filhos estudaram em escola pública e fizeram faculdade incentivados por eles a buscar a única oportunidade de mudança que vislumbravam. Aprenderam cedo o valor e a importância do próprio esforço, do respeito e amor ao outro, da compaixão e do companheirismo. Os 9 filhos escolheram as ciências humanas. Sobrevivência e inteligência emocional. Um irmão sempre ajudou o outro.

Há alguns anos meu pai foi assaltado e quase morreu. Ficou semi cego, perdeu os movimentos do corpo e da mente. Era um radialista criativo, alegre, de imenso e doce coração. Ele tinha muitos amigos de profissão – trabalhou mais de 35 anos coordenando e atuando em rádios do país – mas depois do acidente trágico, três únicos amigos de trabalho foram visita-lo em casa. Seu Jorge contou com o amor da família e se reabilitou superando as expectativas dos médicos.

Seis anos após a tragédia com ele, a vida o colocou em provação novamente. Sua filha mais velha, na época com 35 anos, foi morta por um adolescente drogado porque se assustou com um assalto. Seu Jorge baqueou, mas conseguiu seguir. Sua família não desmoronou porque se amava demais. Ao contrário, se uniu, reconstruiu suas relações com amor e cumplicidade. Seu Jorge e Dona Marlene têm, hoje, 16 netos.Essa reflexão chega no momento em que leio o livro “O Homem que Amava os Cachorros”, um romance que relata o exílio de Trotsky. Excelente! Quando a maturidade chega você se vê rodeado por valores desconhecidos, enxerga suas raízes e se vê mais forte. Estou reflexiva, não triste, nem feliz, apenas pensando que o ser humano é complexo, demasiadamente complexo.

 

Jorge Marcio rádio CULTURA e EXTRA FM BH

Graças ao nosso grande leitor Jota, outro áudio do Jorge Márcio na rádio Extra FM, relembrando os tempos da rádio Cultura e algumas músicas da época. Vamos relembrar juntos…Feche os olhos e faça de conta que você está escutando a Cultura…Ai, saudade…

Rádio Cultura: a voz do porão – Entrevista com Geraldo Ferreira (Geraldão)

Graças ao nosso leitor Elton reproduzo aqui a entrevista com o Geraldo “Big Boss” Ferreira, feita para a publicação “Rádio em Revista”, editada pelo professor Fábio Martins, do Departamento de Comunicação Social (FafiCH/ UFMG).

Tranquem as criancinhas no porão - Paratodos

Rádio Cultura: a voz do porão

Ele foi o “grande chefe” de uma história cujos principais registros estão na  experiência e na memória de uma juventude que curtiu, fez e escutou rádio em Belo Horizonte do final dos anos 60 até o início dos anos 80. Geraldo Ferreira, o Geraldão, diretor da Rádio Cultura, é um dos ícones das nossas ondas sonoras. As histórias de emissoras como a Mundial, do Rio de Janeiro, nos anos 70, ou a rádio Cidade e o boom do FM nos anos 80 são mais conhecidas e, muitas vezes, idealizadas. Provavelmente por desconhecimento da dimensão e do significado da experiência da Rádio Cultura, AM 830, de Belo Horizonte. No final de dezembro de 2006, Geraldão nos recebeu para uma longa conversa, para remexer nas coisas no “porão”, como era conhecido o espaço da rádio quando funcionava no bairro Bonfim juntamente com a emissora-mãe do grupo, a Itatiaia. “É do porão que a vida sai”, diz. No apartamento, muitos discos, uma foto com Bob Marley, em 1977, outra apresentando Djavan a Gonzaguinha, Clara Nunes, Queen… Em 1969, Geraldo Ferreira virou boss quando se tornou diretor da Cultura. Em seguida veioo big, por conta de um vozeirão que ele considera um aleijão. Para quem pode viver e ouvir, será sempre o Geraldo “Big Boss’ Ferreira”.

Como foi seu início no rádio?

Comecei no rádio em 1963, em Montes Claros. Fazia um programa de estudantes, vinculado ao movimento estudantil. Era uma paixão desde pequeno. Em 1964 vim para Belo Horizonte, trabalhava em Montes Claros na ZYD-7 (Rádio ZYD-7, fundada em maio de 1944 pelo jornalista Jair de Oliveira. Depois a emissora passou a se chamar Rádio Sociedade do Norte de Minas.)também passaram os radialistas Daniel Barros e Eduardo Lima. Vim fazer faculdade, curso de mecânica na PUC, passei para arquitetura, pelo design, mas vi que não era a minha. Não tinha formação no rádio, eu era apenas um locutor qualificado, já na rádio Cultura, que era uma rádio “chique”, mais ligada aos clássicos. Havia uma opinião nessa época, uma miopia das pessoas do rádio, de que o rádio era mais voltado para rico e para pobre. A Cultura já era vinculada à Rádio Itatiaia e eu freqüentava a redação, foi a minha formação. No final dos anos 60 a Itatiaia era uma verdadeira academia do jornalismo, com gente como André Carvalho, Januário Carneiro, Gilberto Mansur, Fábio Martins, de formação de rádio. Ali fervilhava a essência do radiojornalismo, embrionário na época. E eu tinha paixão por aquilo, ficava entre a discoteca, o estúdio e a redação. Quando vim de Montes Claros iria para a [rádio] Mineira, mas um amigo falou da Cultura, “uma rádio que tá começando”, um formato interessante para época, uma rádio voltada para a classe A. Fiz um teste, fui aprovado e fiquei nesse compasso entre 1965 e 1969, na minha função de locutor, quando veio a oportunidade de gerenciar a programação da rádio. Eu era um locutor específico, apresentava os clássicos, programa de música erudita. Mas a minha formação cultural me autorizava a trabalhar com outras coisas, era um locutor diferenciado.

De onde vieram as primeiras idéias para pensar um novo formato de rádio?

Minha primeira paixão pela música foi a música erudita. Com a vinda para cá, a vida na universidade, comecei a ter contato com os movimentos da época, de freqüentar um grande momento do rádio que foi a fase da Itatiaia. Eu fui bebendo nessas fontes e antenando para outro tipo de som que estava florescendo na época – Bob Dylan, Rolling Stones, Joan Baez, que na rádio não tocava. Na Arquitetura eu comecei a ter contato com uma literatura, os malditos da época,[Jack] Kerouac (Escritor norte-americano que publicou “On The Road”, em 1957, considerada uma das principais referências da contracultura e obra inspiradora do movimento hippie.e outros) . Já havia um sopro de mudança no mundo, eu era muito ligado aos movimentos estudantis, isso tudo foi formando uma nova mentalidade de que era preciso um canal específico para comunicar, ter mais relação com essas coisas. Eu tive o privilégio de assumir a programação da rádio Cultura no final dos anos 60 e coincidiu com uma fase importante da música, a indústria fonográfica apostando em novos produtos em função dos movimentos jovens. Eu sempre tive contato com isso, sempre gostei de ver o que acontece na minha esquina e no mundo. Eu precisava arrumar uma maneira de levar isso para o rádio. A rádio Cultura tinha uma potência desprezível em relação às rádios da época. Ela pegava em alguns cantos da cidade. Eu não tinha uma amplitude de audiência, eu tinha guetos, que se comunicavam depois. Quando eu fiz essa opção para uma rádio jovem passei a ter dificuldades, rompi com um padrão – e isso me dá satisfação – que tinha uma qualidade fantástica na época (Itatiaia, Mineira, Atalaia, Guarani) e a Cultura conseguiu em pouco tempo romper com esse padrão.

No primeiro momento da rádio Cultura o eixo era essa produção musical, o lado B musical, um jornalismo voltado para temas pouco usuais?

E outros filões, por exemplo, ligar a rádio à Universidade. Coincidiu que o vestibular unificou e eu vi que poderia ter uma prestação de serviço. Eu via que quando saía o resultado do vestibular não unificado era uma fila nas bancas. Por que uma rádio não pode prestar esse serviço? Foram elementos que me ajudaram a formatar mais ainda a rádio, a fidelidade da audiência. A mudança foi radical. O ano foi 1969. Me parece que em maio de 1969, eu comecei a adotar uma nomenclatura musical nova. Era Santana, Led Zeppelin, era o fruto do Festival de Woodstock.

Como se deu a relação entre programas específicos e um novo público?

A rádio com esse formato jovem precisava se especializar mais. Uma experiência era fazer um programa mais jovem na faixa da tarde. Isso me animava porque o JB tinha uns cadernos, fazia umas prospecções na época e tinha uma pesquisa que dizia que a hora do lazer do jovem era mais ou menos à tarde. Eu vi com o tempo que essa foi uma faixa que consolidou uma audiência jovem, de duas às quatro horas. Uma outra observação era que a cidade dormia muito cedo, o rádio dez horas da noite já era “Boa noite!” Como eu atravessava a cidade – nessa época a rádio Cultura era na Gameleira, perto da Universidade Católica, transmissor e estúdio – eu via uma juventude na rua, experiência de colocar uma faixa mais pop que era à noite e ficou esse grafite sonoro muitos anos que era o “Ritmos da Noite”. Uma faixa de lançamentos, era um programa simples, um grafite sonoro calçado por uma grade de programação atualizada. Era ali que a juventude sabia que iria escutar pela primeira vez um Deep Purple.

 A primeira vinheta já tinha a base do Creedence Clearwater Revival, que se tornaria famosa?

Eu não fiz isso sozinho, eu tinha parceiros, por exemplo o Paulinho Joel da HP [Studio HP]. O laboratório da Cultura era na HP. A minha idéia era fazer uma trilha que lembrasse um pouco a noite. Uma primeira opção foi o Led Zeppelin com “Communication Breakdown” (Música do álbum do Led Zeppelin de 1969). E eu gostava de usar a música respeitosamente, sem interromper, utilizando as próprias oportunidades que a música lhe oferece. Texto, voz e música sem interromper. Eu já tinha feito isto com o JJ Ligth no programa da tarde, recebi críticas (“mas a vinheta é maior que o programa”)  -. (A música era “Heya”, do primeiro album de J J Light, ou Jimmy Stallings, em 1969, um músico que misturava folk, soul, rock, dentre outros gêneros. Com duração de mais de três minutos, compunha a vinheta do programa Hot Top, de 14 às 16 horas na Cultura. O refrão é inesquecível para os ouvintes:“Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey! Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey! I was there when the little kids were doing there: Hey-a Hey-a Hey ! Dancing around in a circle doing their snake dance: Hey-a Hey-a Hey ! Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey! Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey!”).  Era um cantor que não tinha expressão, que ninguém conhecia. Baseado nisso foi feita a [vinheta] com o Creedence, que é uma música soturna, fantástica, que não passa com o tempo (A música era “I Heard It Through The Grapevine”, que já fizera sucesso com o grupo Gladys Knight & the Pips em 1967 e com Marvin Gaye em 1968, mas se tornou antológica numa gravação do Creedence para o álbum “Cosmo’s Factory” de 1970.)

Você tinha dimensão do tanto que uma simples vinheta marcaria a emissora?

Eu já tinha essa consciência pelo “Cultura” que eu assinava no meio das músicas. Significava “eu tô aqui”. A Cultura era colada com a Rádio Mineira, que era uma rádio muito bem feita. [A Cultura estava na freqüência de 720 (a mineira nos 760), não nos 830 que depois marcariam a emissora]. Depois é que passou para um parâmetro mais confortável no meio do dial, aí saímos da Gameleira, já fomos para o porão. Já tínhamos uma audiência fantástica. A Cultura chegou a ter parâmetros de audiência nos anos 70 de 70% da audiência jovem, dos 15 aos 19 anos.

Que outras pessoas estavam nesse momento de “fundação”?

Dos primitivos, o Paulinho [Paulo Joel] foi o primeiro. Eu precisava criar coisas novas. Dentro do rádio não tinha essa cultura. E os parâmetros técnicos não me satisfaziam. Aí eu procurei o Paulinho ainda na Bemol, que tinha paciência e também era muito criativo, para me aturar na época. Eu tinha outros primitivos porque a escola de locutores que eu tive que criar era uma escola diferente. O locutor para mim não precisava falar muito, tinha que falar pouco mas com conteúdo. Então eu procurei criar um design na programação: você tinha que emocionar o ouvinte antes, preparar ele para o que ia ouvir. A minha programação não era digamos assim digestiva. Você ouvir um“Whole lotta Love”7 do Led Zeppelin duas horas da tarde… O cara chamava a atenção e no final falava o nome da música em português, que também era uma maneira de dar uma informação um pouco mais digerível, elementos que eu acho que o rádio não pode desprezar. O rádio tem sempre que estar um pouco a frente do seu ouvinte, estar sempre dando um conteúdo. Tudo que você aproveitar – uma hora certa, uma informação, um grafite – que eu gostava muito “A cultura faz isso para você”. “A cultura é jovem por que…”, se apoiar nas informações dos movimentos como o pacifista, traduzia as músicas de melhor conteúdo. Isso tudo faz você ficar um pouco a frente do seu ouvinte. Eu tive a felicidade de ter no jornalismo Antônio Achilis , Raquel Matos, Deusdeth Aquino, jovens que estavam entrando para a Universidade e que também estavam a fim de fazer coisas novas. E também na comunicação o Jorge Márcio.

O Geraldo era essa alma da Cultura e o Jorge Márcio a cara da rádio?

De cada locutor eu procurava decorar em que ele podia render. O Jorge, por exemplo, carinhosamente eu dizia para ele, “o Jorge é 1, 2, 3”. Em três palavras ele é perfeito, “seu rádio tá pegando fogo”. Ele não era um locutor de grandes extensões. Para isso tinha outros locutores, como o Paulo Leite. Chegou aqui do interior de São Paulo, tinha uma cultura mais de rádio esportivo e noticiário. Adaptei ele ao sistema de um rádio mais musical. A ele cabia a primazia das notícias. O Jorge Márcio incorporou-se a Cultura depois de 74. A Cultura levou mais ou menos uns dois anos para consolidar-se. Era aquela dificuldade; “rádio jovem, cabeludo, maconheiro, mau exemplo”, aquelas intolerâncias. Mas já para os anos de 1976 a Cultura já estava aceita. Foi quando veio o Jorge. Eu nunca tive a vaidade de ser um grande locutor. Eu sei que tinha uma voz diferenciada mas nunca tive a vaidade de ser estrela como o Daniel [Barros], por exemplo. Eu pensava e o Daniel ia interpretar aquela frase que eu criei. No caso, eram verdadeiros atores, eles interpretavam aquilo e realmente me aturavam. Eu sempre fui um perfeccionista, sempre achava que era possível melhorar à perfeição e as vezes não precisava. Mas isso foi bom para todos nós porque quando veio o FM eles viram que a gente estava na frente. O rádio que a gente fazia com dificuldade era mais ou menos esse rádio.

Além do Ritmos da Noite, tinha uma faixa da tarde…

Tinha uma vinheta, o Hot Top, a própria vinheta já marcava, “é a hora do cão”. A hora que o menino tomava conta. Eu sei o que era muito maldito na gravadora. Lá pelos anos de 1974 a Cultura passou a ser referência. Eu não podia tocar Roberto Carlos porque era o que todo mundo tocava. Na música brasileira houve um buraco negro nessa época, então eu tinha que procurar coisas novas: era Sérgio Sampaio, Tim Maia, Novos Baianos. A gravadora já ganhava dinheiro vendendo Moacir Franco e outros cantores populares bons pra caramba.

Como eram as instalações para fazer a rádio?

Vestia-se a camisa porque só assim consegue-se um sonho. A rádio já tinha condição financeira de importar um transmissor de qualidade, fazer uma instalação, eu escolhi o porão. Quando eu disse que ia para o porão o Januário [Carneiro] não admitia de jeito nenhum, só que ele não sabia o que eu ia fazer. É do porão que a vida sai, as grandes idéias. Aí foi a fase glamorosa da Cultura. Já não tinha aquele conteúdo belicoso, não competia mais a mim. No máximo o punk, Sid Vicious, mas eu já não tinha mais a obrigação, eu tinha um parâmetro grande na minha grade musical em que eu passeava tranqüilo. Lançamentos nacionais, rádio querida de cantores da época, Clube da Esquina. O Raimundo Fagner escolhia sempre a rádio para fazer seus lançamentos.

Como você orientava os locutores?

Eu passei a tirar proveito desses jovens que estavam comigo. O [Oliveira] Rangel era uma espécie de ficção, ele era gravado, o Jorge era ao vivo. Então ele deixava gravado “oi Jorge”, aí o Jorge respondia, tudo programado. E eu procurava botar conteúdo: “você viu o que aconteceu na Savassi…”, [notícias sobre] a liberação de um disco pela censura. Essas coisas ajudaram a abrir muito o caminho da comunicação do locutor, sair daquele negócio da hora certa. A programação que eu fazia tinha momentos que davam oportunidade ao comunicador de interagir mais com a audiência. O gueto em que o rádio estava não tinha o carinho das escolas de comunicação. As universidades têm hoje um pouco mais de carinho. Só pelo fato de ter nas universidades um professor como o Fábio Martins, que é um radialista e um jornalista, mostra isso. Antes você procurava o locutor pela voz e na verdade o cara era analfabeto. E o operador era o contrário, estava mais perto. “Olha, toda vez que tocar essa música você põe tal coisa”. Hoje é mais fácil, tem gente das escolas para trazer para o rádio. Não basta ter uma voz, a voz você pode disciplinar, são pequenas coisas que um diretor dá. A inteligência não, tinha que trazer informação. Hoje o pessoal está mais preparado. Na Cultura não, abria o microfone, tinha que estar escrito: “Top hundred Cash Box, posto 34, Gladys Night and Pips. Continua…” Às vezes você tinha um locutor de conteúdo, mas o operador tomava umas e chegava atrasado… Você tinha que ter um nível de tolerância muito grande para ter uma equipe. Isso às vezes era um pouco incompreendido. E eu tinha certa preguiça com isso, entrava na discoteca e procurava já ter ao meu alcance tudo quanto é disco. Eu pensava: “um dia eu tenho que ter uma máquina que me dá isso tudo”. Eu tinha que ouvir Milton Nascimento e marcar quantos segundos dava da música até ali. As vezes a música tinha que ser cortada porque o meu som era muito vagabundo, não dava para sair, o pessoal ia pensar que a rádio estava fora do ar. Eu já pegava na real: “atenção operador, limar a introdução, começar daqui”. Hoje a tecnologia te dá facilidade, te dá mais tempo para pensar, para criar.

Qual o peso você atribuiria para a improvisação no sucesso que a Cultura

A oportunidade você tem que dar, tinha um momento em que facilitava a criação. O Jorge era um ator. Eu dizia “o nome do grupo é Blood, Sweat and Tears”, aí ele ia treinando, procurava uma melhor maneira para falar. Às vezes aparecia uma cagada, mas apareciam também coisas maravilhosas, impressionantes. O noticiário nosso permitia isso, dependendo do talento. Eu me lembro do Bandeirinha [Geraldo Bandeira de Melo], hoje na Copasa, permitia criar uma notícia, não sei se ele, a Meire Zaidan, a Doris [Cherubino] . Tinha descoberto uma areia afrodisíaca, o cara foi fazer uma experiência e agarrou logo a secretária. Aí um cara ligou para mim e falou que tinha aquilo mesmo. O rádio precisa ter isso, precisa ter emoção. Esse factual está esquecendo uma coisa principal, a emoção. Tendo um bom locutor você pode criarcertas situações. O rádio está muito pragmático. É preciso esse carinho com a audiência.

A Cultura e sua forma de dirigir criou uma escola de locutores?

Não digo escola, não tenho essa pretensão, mas com certeza havia uma necessidade de reformular. O formato que eu herdei do rádio era maravilhoso, mas não servia para você trabalhar com outro tipo de música. Eu tive dificuldades com essa geração, alguns não entendiam, achavam que eu estava excluindo, “o Geraldão está achando que é o dono do mundo”, um cara veio da [rádio] Voz da América e quando viu o Jorge anunciar, falou “obrigado, tchau”, outros se recusaram. O título da música era traduzido, eu fazia questão que o cara entrasse dentro da música, interpretasse, é até um pouco de romantismo, mas não tirava tempo, falava em cima da música. Essa maneira foi uma base para o rádio contemporâneo. Primeira coisa: o cara não tem que inflexionar a voz, tem que ter charme. Eu falo grosso por causa desse aleijão. A Cultura foi uma base porque o mercado aceitou. Quando eu herdei o rádio era um varejo miserável. O Daniel [Barros] chegou vendendo com uma outra categoria, conversando com o ouvinte, uma locução mais interpretativa. Isso vem do Orson Welles. A rádio Cultura permitiu isso, uma forma de comunicar em que a voz não é o mais importante, mas a inteligência é o seu charme.

Qual a relação da rádio Cultura com as gravadoras?

As gravadoras passaram a ver a Cultura como veículo importante, aí eu fui ver a força que eu tinha. Além de mim, tinha uma rádio em Porto Alegre, a Continental. Eram rádios básicas para experimentos. Me deram um disco do Bad Company  e deram para o rapaz de Porto Alegre o Bachman [-Turner Overdrive]  Eu lancei o Bad Company numa noite e no dia seguinte uma loja, a Pop Rock, vendeu mil e quinhentos discos. O cara de Porto Alegre ficou tocando um mês o Bachman e não aconteceu nada. Ele me deu e com quinze dias “Hold Back the Water” estourou a banda. Aí o cara da gravadora me disse: “sua rádio é a mais importante do país”. Isso me deu parâmetros e a primazia de lançar discos, o Queen, por exemplo. Belo Horizonte sempre foi uma cidade jovem. Eu fico muito feliz quando vejo esses jovens hoje no palco, o Pato Fu. Eu já sonhava com isso naquela época. Aqui não tem muito lazer, a música aqui é coisa séria. Acho que hoje está faltando um pouco mais de carinho com a nossa música, principalmente o gueto da música instrumental. O rock daqui pra mim é perfeito, se hoje tivesse oportunidade faria um programa de duas às quatro só com material nosso, de qualidade fantástica. Você vê esses meninos, que eu ouço pouco mas acompanho, o Concreto, parece que você está ouvindo um rock da Califórnia. Belo Horizonte é uma
cidade fantástica para a juventude.

Havia a criação em parceria das vinhetas, dos discos Programa 1, Programa 2, Rádio Sucesso. Quando as gravadoras abriram para isso, eu fui a terceira a fazer. Já tinham lançado disco a Mundial, no Rio, e a Excelsior, em São Paulo. Fui convidado para fazer mas disse “só faço com material exclusivo”. Não ia fazer um disco de compilação igual ao que as outras rádios faziam. Na Mundial, afiliada da Globo, as gravadoras chegavam com a programação pronta. Falei não, a programação quem faz sou eu. Foi quando lancei o Cultura Programa 1, já lançando na época, e eu não tinha visão do sucesso que seria, o KC and Sunshine Band e outros grandes. Com o estouro do disco, que vendia em Belo Horizonte, eu cheguei a ser o segundo ou terceiro disco da companhia em venda. Aí as gravadoras todas assediavam a Cultura para fazer um disco e eu era muito correto com isso. Fiz um programa para São Paulo, uma cidade que me acolheu muito bem. Foi em São Paulo onde eu tive a maior receptividade ao meu trabalho. Eu falo que se você não for reconhecido na Paulista, não tem jeito. A Warner quando veio ao Brasil escolheu a Cultura como a rádio referência para lançamentos, o que me dá muito orgulho. E eu fiquei a frente das rádios paulistanas, na época já tinha Joven Pan e a Excelsior. Então a Cultura foi admitida em São Paulo pelo conteúdo de todo o meutrabalho e pelo desalinhamento musical que eu tinha de Rio e São Paulo. Com isso eu lancei depois o Rádio Sucesso, queria passar para o disco os momentos hilariantes que a programação tinha. Era a própria rádio. Aí conseguimos fazer uma programação de um disco fantástico, um disco curto, tinha algumas vinhetas da própria programação. E todo mundo tinha medo: “Geraldão, como é que o cara lá vai aceitar isso?” Perfeitamente, esse disco foi uma aceitação nacional. Chegava ao Rio e São Paulo e o todo mundo achou interessante.

E a discussão da mudança da emissora do AM para o FM?

O nome Rádio Sucesso era um grande sonho meu na época: desatrelar, logo no embrião dos FMs. Eu ia passar para o FM e deixar no AM Rádio Sucesso, que convinha muito. Já vinha trabalhando esse nome, Cultura Rádio Sucesso, que era para passar a Cultura como ela era para o FM e deixar uma rádio popular no AM. Isso não foi possível por questões empresariais. A Cultura tinha um sócio, e o Emanuel [Carneiro] e o Januário [Carneiro] ponderaram que na época não seria conveniente jogar a marca Cultura no FM. E talvez por falta de um pouco de vontade e também não havia necessidade, A Cultura, sendo AM, tinha uma audiência cinco vezes maior que as FMs. A Cultura chegou a brigar com a rádio Cidade, com a rádio Del Rey. A Cultura chegou a fazer uma chamada explicando porque não passava para o FM, dizia que era uma “freqüência colorida”. Me deu aborrecimento aquilo. Rádio é uma coisa só. Aí eu peguei uma pesquisa da Marplan e somei as audiências das FMs emergentes na época, embora eu tivesse consciência que precisava sair logo da faixa da AM, porque meu sonho era acender a luz do rádio FM. Também tinha importado um transmissor fantástico na época, a Cultura estava sobrando no dial, e eu brincando fiz esse texto. “Cultura AM, – dava a descrição do transmissor – “e ela sendo AM, ela faz questão de
não ser FM porque ela sendo AM, ela vai mais longe, chega mais perto de você com a sensibilidade e tal e tal”. E, além do mais, as cinco FMs somadas não chegavam à nossa audiência. O Januário, que era fantástico, gostava disso, falou: “põe no ar”. Eu pus erecebi uma reprimenda da Abert. Ele mesmo como presidente falou: “tira aquilo do ar porque os radiodifusores falaram: Januário, o Geraldão tá abusando…”

A não passagem da Cultura para FM naquele momento foi a morte daquela forma de rádio?

Eu mesmo falei: “o criador não pode apodrecer com a criatura”. Eu criei, morre comigo, para eu sobreviver e ter esse privilégio de estar aqui hoje com você. Se eu entro naquela do rádio AM da época eu não tinha valor nenhum. Ganhou, ganhou, quem não ganhou não ganha mais e eu vou sair. Eu mesmo tive a primazia de fazer a transposição da Cultura para rádio popular, eu devolvi a faixa AM para onde ela tinha que ir. Chegou a ter parâmetros de audiência confortáveis. Ela nunca foi primeiro lugar e nunca fiz questão de ser. Eu queria ser específico para aquele segmento, era uma rádio segmentada e eu pude introduzir outro tipo de locução, outro tipo de programação. Não era mais “Ritmos da Noite”, mas “Telefone Colorido”. Adaptei a faixa popular de qualidade e aí saí fora. Já tinha uma defasagem nessa época de três anos, eu não agüentava mais a [rádio] BH no meu calcanhar, a Del Rey. Aí abri a porteira, a maioria foi para a Rádio Cidade, a qualidade da Cultura autorizava isso. O Paulo Leite, o Jorge Márcio foram para a Cidade, o Zé Carlos foi brilhar na [rádio] 98 no Rio. O rádio AM musical não tinha futuro, como não teve.

Como você lidou com os ouvintes nesse período de transição? Certamente eles cobravam…

Foi terrível. Para onde estava o Jorge Márcio eu trouxe o Jorge Gomes, outro tipo de locutor. Esse foi um trabalho de engenharia e eu fiz com prazer. Eu estava desconstruindo e era um privilégio você desconstruir aquilo que você mesmo construiu. Como não foi possível eu passar a Cultura para o FM, “aquela rádio envenenada, zoada que você ouvia no 830 mudou de mala e cuia para 90,7 mas aqui você continua ouvindo…” – eu já tinha até essas vinhetas prontas. Eram duas rádios, uma dando suporte para outra, só que eu ia passar tudo porque eu tinha know-how e tinha equipe. A rádio Cidade não cresceria tanto como cresceu se eu tivesse passado. A programação dela não trouxe novidade nenhuma. Eu não tive possibilidade de fazer isso e o fator tempo em qualquer atividade é imprescindível. A defasagem da Cultura para a época foi de 4 anos, eu já não podia fazer mais uma ligação embora no início da [rádio] Extra euquis fazer. Era tentar pegar um pouco do que foi a Cultura, reativar, para depois procurar um outro caminho que eu queria.

Tem um texto histórico da Extra…

Que era um manifesto, um texto lido pelo Rangel, que estava fora de Belo Horizonte. A minha intenção na Extra, pelo fato de ter saído da Cultura dois anos depois, era reativar um pouco do porão. Eu fiquei na Cultura até 1984 e a Extra só entrou no ar em 1987. Eu não queria voltar para o rádio fazendo o dado, o consumido e o consumado, eu queria procurar uma nova prospecção, queria continuar um padrão de rádio de qualidade musical procurando um novo fio musical, porque depois dos anos 80 a realidade já era outra, era Legião Urbana, era Cazuza, queria fazer um outro tipo de rádio. Mas aí tinha outros problemas: fiquei dez anos como pioneiro, levar porrada de novo? A realidade era outra, a música da Bahia chegando. Aí, uma retirada me faz melhor do que assinar uma rendição ou uma capitulação. Não tenho muito a contribuir porque souincompetente no rádio “fubá”, o rádio para mim é conteúdo, é pensar.

Depois de três anos de Extra você tirou o time de campo?

Eu fiquei um ano na Extra. Eu vi que teria os mesmos aborrecimentos e as mesmas encheções de saco. Eu queria fazer um negócio diferente. Já naquela época eu já estava antenado com outros sons. Ainda uma rádio roqueira mas com outros conteúdos. Já não queria mais pré-vestibular, eu queria estar atrelado às universidades, esse era o grande mercado. Eu já queria ter um pouco mais de conteúdo, não era mais o disco para transmitir, era o show com o satélite. O Festival de Monterrey ou de Woodstock chegou para mim no disco, agora eu ia fazer ao vivo.

Qual o papel para rádio Cultura de eventos que ela organizava ou tomava parte, como Rock Horizonte e as gincanas?

Eu procurava ter interação com minha audiência, gostava de ver a cara de quem estava ouvindo. Eu sabia que tinha uma época em que eu estava muito forte na periferia, nos movimentos blacks da época. Então eu incentivava, não promovia porque não tinha dinheiro e a rádio não tinha interesse nessa área. Eu incentivava os promotores, criava o evento para eles e a rádio promovia. Eu tinha prazer de ver a cara da minha audiência. Teve uma época que a Rádio Cultura estava muito urbana e eu introduzi as gincanas e vi a audiência suburbana. Eu tinha uma tese de que a rapaziada era igual em todo lugar, você têm que dar é conteúdo para eles e não fazer pouco caso da sua inteligência. Um cara que mora numa periferia tem a mesma capacidade, é tão inteligente quanto o que estuda no Colégio Santo Antonio. Então eu fazia essa interação através das gincanas porque dava temas de conteúdo. Por exemplo, vamos tirar a ecologia da teoria para a prática: hoje vocês vão plantar uma praça. Chegava à prefeitura perguntava qual era a praça mais desprezível e partíamos para lá. O Zezito, cara fantástico, era quem me assessorava na época. O jovem participava, aprendia, saía satisfeito. Também na área de shows, apoiava os malditos, que não tinham acesso à grande mídia. O Rock Horizonte foi o primeiro grande show brasileiro da ditadura. Não podia fazer shows em determinados horários com determinados artistas. Em 1981 eu consegui fazer com alguns produtores. Era o meu sonho de levar para o meu público aquilo que a gente tocava. Tive a liberdade de fazer toda a programação: Sá e Guarabira, 14 Bis, Ponte Aérea, Raul Seixas, separei a Baby do Pepeu, porque eu sabia que o cara cantava. E o velho Raul, que eu tive o prazer de lançá-lo eu 1972 com o Ouro de Tolo acompanhei a carreira dele. Fez um show fantástico, e foi um embrião para outros shows. Na época, o Fantástico mostrou para o Brasil que Belo Horizonte tinha musicalidade. Na hora que abriu para o Brasil ao vivo estava no palco o Sagrado
Coração da Terra, com o Marcus Viana, músico fantástico. Eu sempre tive uma vivência e um carinho grande para com os músicos daqui, são sofridos, e pelas dificuldades que eu tinha em tocá-los na emissora, imagine nas outras.

A Cultura também sempre foi marcada por textos emblemáticos. Se a Extra começou com aquele manifesto, a Cultura tinha mensagens de fim de ano, coisas muitos elaboradas. Era você sempre?

Eu criava o mote. Chegava no fim de ano e você preparava a sua audiência “Faltam 28 dias para o Natal”, aí entrava o John Lennon, Grahan Nash. Quando chegava uma música de conteúdo que levava a juventude a pensar, a indagar, eu procurava traduzir e oferecia isto a minha audiência.

Quem fazia as trilhas?

Quando a Cultura teve acesso às grandes gravadoras, continuei tendo uma relação saudável com os produtos industrializados e procurava tirar proveito. Eu tinha mais amizade com os músicos do que com as gravadoras. O Tavito é que fez a vinheta do Natal. (“Quem não guarda uma imagem do Natal…” os antigos ouvintes não têm como esquecer ) A Cultura gravava em Dallas. Tinha um anunciante na Cultura, a Waikiki, que vendia pra caramba em BH e eles vieram para conhecer, tal a força da Cultura. O americano veio para ver. Ele ligou para a rádio, falou que tinha um estúdio em Dallas, que escrevesse que ele ia gravar… As vinhetas feitas aqui também eram maravilhosas, coisa do Paulinho [Joel]. Quando tinha movimento pela paz, ecológico, procurava trazer tudo para a rádio em forma de grafites.

Ficou algum registro, algum acervo dessa época da rádio Cultura?

O máximo que eu consegui guardar da época da Cultura foi o Disco Rádio Sucesso. Isso foi uma displicência. Eu não tive tempo de ter essa perspectiva histórica. Tinha que trabalhar de manhã para comer à tarde. E não tive o cuidado de preservar. E também não sabia que a gente ia ter essa importância. O momento da Cultura, ela pegou o vácuo, estava ali, teve a visão. Enquanto você está fazendo não tem essa perspectiva. Trinta anos depois é uma rádio que ainda tem um recall. Eu sempre sou solicitado para falar até fora daqui o que foi aquilo, como testemunho, como vivência. Falar de grandes artistas como Gonzaguinha, Djavan, essa turma que eu vi crescer. Eu não tenho nada. O [Studio] HP devolveu para a rádio, eu não estava lá mais e aí… O que mais me dói é o arquivo sonoro. Com a Cultura foram para a sepultura coisas fantásticas como a entrevista com Vinícius de Morais, uma entrevista de três horas, Caetano Veloso voltando do exílio, tinha oito horas gravadas com ele lá em Ouro Preto, momentosinusitados que eu tinha em fita. Também tive problemas de mudança, adoeci, ficou só na memória. O Jorge também é muito cobrado, porque ele que apresentava.

Geraldo Ferreira, Jorge Márcio, Oliveira Rangel, Zezito, todos radialistas negros. Nessa história da Cultura tem uma questão étnica ?

Acho que o negro tem que ter oportunidade. Está falando um diretor de uma rádio e eu nunca mais vi um negro ter o assento numa rádio como eu tive aqui. Eu sei como negro o quanto é duro chegar numa universidade, as intolerâncias. Se você não tiver conteúdo… A Cultura sempre vai estar no meu coração. Poucos homens fizeram aquilo que sonharam. O que me orgulha mais, além da pauta musical, da programação, foram as pessoas.

Nova Coleção de “Antiguidades” da Cultura AM 830

Já está no ar o volume 2 dos Sucessos da Rádio Cultura que traz sucessos óbvios, mas que fizeram parte do nosso dia-a-dia. É só sintonizar.


Faixas/Tracks:

  1. The Lion Sleeps Tonight – Robert John
  2. I’m So Happy – Trio Galletta
  3. Girl, I’ve Got News For You – Mardi Grass
  4. My Pledge Of Love – Joe Jeffrey
  5. Baby Come Back – The Equals
  6. Venus – Shocking Blue
  7. Hanky Panky – Tommy James & The Shondels
  8. Nobody But Me – The Human Beinz
  9. That’s What I Want – The Square Set
  10. Woman – Barrabas
  11. Vietnam – Jimmy Cliff
  12. Pata Pata – miriam Makeba
  13. In The Summertime – Mungo Jerry
  14. Heya – J.J. Light
  15. I Heard It Through The Grapevine – Creedence
  16. I Put A Spell On You – Manfred Mann
  17. San Francisco Nights – Eric Burdon & the Animals
  18. Spill The Wine – Eric Burdon & War
  19. Mama Told Me (Not To Come) – Three Dog Night
  20. Crimson & Clover – Tommy James & The Shondels
  21. The Weight – The Band
  22. I’d Love To Change The World – Ten Years after
  23. Long Cool Woman In A Black Dress – The Hollies

Disponível em : Raras Músicas

O CD da Cultura Volume 1

Conforme prometido, ai vai o volume 1, para os saudosos da Rádio Cultura AM 830 de BH, lembrando que a seleção musical é do Jota, a quem agradecemos. Abrimos com Neil Young (Hey, Hey, My,My), passamos pelo Triumvirat (I Believe), a única em flac, e por isto com melhor qualidade sonora,The Sweet & Slade, Kansas, David Gilmour, Jeff Beck , com Blue Wind, que como lembra o Jota era o tema de abertura do Top Hits,  Driftwood , do Moody Blues, um dos melhores conjuntos da época e que só tocava na Cultura, e mais :Supertamp, The Who, Genesis, Meat Loaf, Creedence (e o tema de abertura de Ritmos da Noite), Heya,Hey (abertura do Rock Top) e  Joe Walsh. É só botar para tocar, fechar os olhos e imaginar-se escutando , quem sabe Ritmos da Noite. Em breve o Volume 2.

Faixas/Tracks:

 

  1. Hey, Hey, My,My (Into the Black) – Neil Young
  2. I Believe – Triumvirat
  3. Love is Like Oxygene – The Sweet & Slade
  4. Point of Known Return – Kansas
  5. Cry from the Street – David Gilmour
  6. Blue Wind – Jeff Beck
  7. Driftwood – Moody Blues
  8. Try Again – Supertamp
  9. Who Are You – The Who
  10. Carpet Crawlers – Genesis
  11. Bat Out of Hell – Meat Loaf
  12. I Heard it Through the Grapevine – Creedence
  13. Heya,Hey – J.J. Light
  14. Life Been Good For Me So Far – Joe Walsh

Para baixar o CD é só ir ao link do Raras Músicas e clicar no link em Download

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