Walter Rosciano Franco (São Paulo, 6 de janeiro de 1945 — São Paulo, 24 de outubro de 2019)
Um dos mais intrigantes e polêmicos músicos brasileiros partiu . Walter Franco não fez parte de nenhum movimento musical específico. Não participou da bossa nova ou tropicalismo, mas sempre esteve na vanguarda. Walter incomodou, acho que esta é a palavra certa. Fez parte da Vanguarda Paulista, e da geração de Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção. Trabalhou com arranjadores como Rogério Duprat e Júlio Medaglia, e teve a letra da música “Cabeça” traduzida para o inglês por Augusto de Campos. Seu álbum mais aclamado pela crítica é Revolver, de 1975, ao meu ver uma obra prima.
O compositor tem pelo menos cinco músicas bem conhecidas do grande público: a própria “Cabeça”, “Seja Feita a Vontade do Povo”, “Coração Tranquilo”, “Respire Fundo” e “Vela Aberta”, sendo a última executada até hoje em programas radiofônicos de flash-back.
Outro sucesso de Walter Franco é “Serra do Luar”, com um refrão marcante: “Viver é afinar o instrumento / De dentro prá fora / De fora prá dentro”.
O bom Tiago Iorc, depois de parado durante um certo tempo, retornou de surpresa com o disco Reconstrução – e recentemente lançou o Acústico MTV. A canção que concorre ao prêmio é Desconstrução, que abre o álbum. Ela é nossa canção do dia.
João Gilberto do Prado Pereira de Oliveira OMC (Juazeiro, 10 de junho de 1931 — Rio de Janeiro, 6 de julho de 2019)
Acho que todo mundo já escutou e leu muito sobre João Gilberto nestes últimos dias, mas um blog como o Vitrola dos Sousa que ama a música, principalmente música de qualidade, não poderia deixar e prestar sua homenagem a este ícone mundial. Na primeira vez que prestei a atenção em João Gilberto eu tinha em torno de 18 anos e fiquei curioso com a letra de uma música que dizia:
“Rua Nascimento Silva, cento e sete Você ensinando pra Elizete as canções de canção do amor demais…”
A música era “Carta ao Tom” , de Vinicius de Morais, lançada em 1974. Ai eu pensei: como assim ensinando pra Elizete ? Afinal, conforme eu tinha aprendido com minha mãe, a Elizete Cardoso era a maior cantora brasileira, a diva da nossa música popular. Quem se atreveria ensinar a ela como cantar ? Era o maestro Tom Jobim , que insistia que Elizete entendesse como cantar junto daquele violonista, que a acompanharia em duas faixas (“Chega de saudade” e “Outra vez”) no disco, “Canção do amor demais” , gravado no início de 1958.
Elizete havia sido convencida por Vinicius e Tom a participar de um projeto de unir a música e a poesia dos dois em um disco. João, que se apresentava nas noites cariocas, havia impressionado Tom com sua batida diferente e ele o convidou para acompanhar Elizete em duas faixas do disco. A dificuldade era que Elizete cantava ainda de maneira convencional, com acentuação rítmica nas sílabas tônicas nos tempos fortes e abuso do vibrato. João havia simplesmente abolido esta técnica,simplificando o samba, mas através da utilização de uma harmonia mais sofisticada e mais densa. Por isto tiveram que ensinar a Elizete a esquecer do passado e cantar o samba da maneira que João tocava. Nascia a bossa-nova. Como explicou Vinicius em 1965:
“Um samba todo em voltas, onde cada compasso era uma queixa de amor, cada nota uma saudade de alguém longe. Mas a letra não vinha. Fiz 10, 20 tentativas. uma manhã, depois da praia, subitamente a resolução chegou. Queria, depois dos sambas do Orfeu, apresentar ao meu parceiro uma letra digna de sua nova música: pois eu realmente a sentia nova, caminhando numa direção a que não saberia dar nome ainda, mas cujo nome já estava implícito na criação. Era realmente a bossa nova que nascia, a pedir apenas, na sua interpretação, a divisão que João Gilberto descobriria logo depois (MORAES, 29/01/1965).
Estimulado por esta história é que eu procurei por João Gilberto e o inclui entre os meus favoritos. O resto é saudade…
Álbuns de estúdio
Chega de Saudade (Odeon, 1959) LP
O Amor, o Sorriso e a Flor (Odeon, 1960) LP
João Gilberto (Odeon, 1961) LP
Getz/Gilberto (Verve, 1964) LP
João Gilberto en México (Orfeon, 1970) LP
João Gilberto (Philips, 1970) LP
João Gilberto (Polydor, 1973) LP
The Best of Two Worlds (CBS, 1976) LP
Amoroso (Warner/WEA, 1977) LP
Brasil (WEA, 1981) LP
João (PolyGram, 1991) CD
João Voz e Violão (Universal/Mercury, 2000) CD
Álbuns ao vivo
Getz/Gilberto #2 (Verve, 1966) LP
João Gilberto Prado Pereira de Oliveira (Verve, 1966) LP
Live at the 19th Montreux Jazz Festival (WEA, 1986) 2LP
Eu sei que vou te amar (Epic, 1994) CD
João Gilberto live at Umbria Jazz (EGEA, 2002) CD
João Gilberto in Tokyo (Universal Music, 2004) CD
Um encontro no Au bon gourmet (Doxy, 2015) LP
Selections from Getz/Gilberto 76 (Resonance, 2015) LP
A música do dia hoje é uma dica do meu querido irmão Luis Henrique.
O Toque de Arte é formado por quatro artistas que, segundo sua página no Facebook, fazem música com virtuosismo e empolgação. SBiografia
O quarteto lançou em Janeiro/17, no Rio Scenarium (Lapa), o CD “Toque de Arte – 20 Anos – Ao Vivo” (FINA FLOR), gravado no Citibank Hall/RJ. É o seu 3º cd gravado. Os anteriores são o “Samba & Voz” (2004 – Independente) e o “Pelos Quatro Cantos” (2008 – selo Albatroz). Ostentando mais de 15 anos de estrada com a mesma formação, sete deles no saudoso Butiquim do Martinho como convidados do próprio Martinho da Vila, o Toque de Arte atua no mercado nacional e internacional, onde dá ênfase, por ser um artista carioca, à Lapa carioca, sendo um dos representantes da revitalização cultural da região, fazendo, a cada show, uma festa para o público fiel. Angariou nos seus discos participações especiais de Martinho da Vila, Chico Buarque e Alcione, a Marrom. Bastante atuante na região da Lapa carioca e de Vila Isabel, além de Brasil e exterior. (Texto da página do Grupo no Facebook)
A minha geração e em certo grau, também a nova, estamos acostumados a pensar na década de ouro da música popular brasileira (MPB) como situada entre o final dos anos 1960 e o final dos 1970. Mas, será mesmo que esta década foi a melhor da MPB ? Começo a desconfiar. Quando me dispus a pesquisar, ancorado na pesquisa anterior do site Mais Tocadas, outras seleções, separadas por décadas, fui surpreendido. Nada que já não soubéssemos, mas quando colocadas em conjunto, as canções da década de 1930 constituem a verdadeira base para o que escutamos hoje e para a própria década de 1970 (o que, para sermos justos, sempre foi reconhecido por aquela “nova” geração). Convido-os a escutar esta primorosa seleção musical, incluindo essenciais como Pixinguinha, Noel Rosa, Ary Barroso, Lupicínio, Lamartine Babo, Braguinha, Vicente Celestino entre outros, aqui apresentada em versões atualizadas, o que sem dúvida ajuda a trazer estas belíssimas canções para um contexto mais atual, facilitando a sua degustação.
São 45 sucessos:
Minha Palhoça – Silvio Caldas (1935)
O que é que a bahiana tem – Dorival Caymmi (1939)
Tahi – Pra você gostar de mim – Joubert de Carvalho (1930)
As Pastorinhas – Braguinha (1938)
Cidade Maravilhosa – André F ilho (1934)
O Teu Cabelo Não Nega – Lamartine Babo, João e Raul Valença (1932)
Carinhoso – Pixinguinha, João de Barro (1917 e 1937)
Tico Tico no Fubá – Zequinha de Abreu (1917 e 1931)
Pierrot Apaixonado – Joel e Gaucho (1936)
Linda Morena – Lamartine Babo (1933)
Sonho de Papel – Alberto Ribeiro (1935)
Camisa Amarela – Ary Barroso (1939)
Na Pavuna – Almirante (1930)
Camisa Listrada – Assis Valente )1938)
Na Batucada da Vida – Ary Barroso (1934)
Maringá – Joubert de Carvalho (1932
Chão de Estrelas – Silvio Caldas (1937)
Se Você Jurar – Ismael Silva (1931)
O Ébrio – Vicente Celestino (1936)
O Orvalho Vem Caindo – Noel Rosa (1933)
Meu Moreno – Hervé Cordovil (1935)
A Jardineira – Humberto Porto, Benedito Lacerda (1938)
Se Acaso Você Chegasse – Lupicínio Rodrigues (1938)
Agora é Cinza – Bide e Marçal (1934)
Para Me Livrar do Mal – Noel Rosa (1932)
De Papo pro Ar – Joubert de Carvalho (1931)
Mágoas de Caboclo – Leonel Azevedo, J.Cascata (1936)
Não tem Tradução – Noel Rosa (1933)
No Rancho Fundo – Ary Barroso, Lamartine Babo (1939)
Na Baixa do Sapateiro – Ary Barroso (1938)
Andorinha Preta – Breno Ferreira (1932)
Com que Roupa – Noel Rosa (1931)
No Tabuleiro da Bahiana – Ary Barroso (1936)
Feitiço da Vila – Noel Rosa (1935)
Aquarela do Brasil – Ary Barroso (1939)
Touradas em Madrid – Braguinha (1938)
Lábios que Beijei – Leonel Azevedo, J.Cascata (1937)
Deusa da Minha Rua – Newton Teixeira, Jorge Faraj (1939)
Singing in the Rain – Arthur Freed e Nacio Herb Brown (1929)
Yes Nós Temos Banana – Braguinha (1939)
Não Tenho Lágrimas – Maximiliano Bulhões e Milton de Oliveira (1937)
Um dos programas musicais que mais me marcou quando ainda era criança (tinha 11 anos) foi oFestival de Música Popular Brasileira de 1967, a terceira edição do Festival de MPB organizado pela TV Record de SÒ Paulo. Ele aconteceu entre 30 de setembro e 21 de outubro de 1967, no Teatro Record Centro, em São Paulo, com apresentação de Sônia Ribeiro e Blota Júnior.
Quem não assistiu não tem ideia do impacto que ele causou em todo país. Uma nação acostumada a cantar boleros, mal iniciada na Bossa Nova e na Jovem Guarda foi de repente invadida por uma série de conceitos musicais novos. A música podia ser tradicional, o samba modernizado, o rock abrasileirado, a música brasileira eletrificada, as letras passaram a retratar o cotidiano, a propiciar o protesto e a esperança. Se como apenas isto já não bastasse toda uma geração de gênios musicais estava sendo lançada, ou consagrada ali: Edu Lobo, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Marília Medalha, MPB-4, Mutantes, Elis Regina, Jair Rodrigues, Nara Leão, Dori Caymmi, Roberto Carlos, foram apenas algumas das atrações envolvidas na disputa.
Para mim era impossível escolher a melhor e o público se dividiu e torcia como em uma partida de futebol, aplaudindo e cantando as suas favoritas e vaiando intensamente as suas concorrentes. A canção vencedora do festival foi “Ponteio”, de Edu Lobo e Capinam, interpretado pelo primeiro e por Marília Medalha. Para vocês terem uma ideia, foi neste festival que foram apresentadas originalmente Alegria, Alegria, de Caetano Veloso; Roda Viva, de Chico Buarque e Domingo no Parque, de Gilberto Gil, esta última sendo considerada marco inicial da Tropicália.
E o melhor, a Grande Final foi preservada, e pode ser assistida na íntegra. Eu me diverti muito revendo este programa que agora trazemos para vocês:
Nossa nova série mostra alguns clássicos escutados na varanda mais musical de Minas, a varanda do Vitrola. A Dança da Solidão é o quinto álbum de estúdio do sambista Paulinho da Viola, lançado em 1972. Um clássico, que se conserva essencial 46 anos após o seu lançamento. Guardei minha viola, No Pagode do Vavá, Dança da Solidão, Coração Imprudente do próprio Paulinho, Meu Mundo é Hoje (Eu Sou assim) de José e Wilson Batista, e Acontece , de Cartola tornaram-se estandartes da MPB. Essencial
Faixas
Lado A
Guardei minha viola (Paulinho da Viola)
Meu mundo é hoje (Eu sou assim) (José Batista, Wilson Batista)
Papelão (Geraldo das Neves)
Duas horas da manhã (Ary Monteiro, Nelson Cavaquinho)
A tecnologia meio “Black Mirror” de hoje aprontou outra das suas. Uma canção escrita por Gonzaguinha e censurada, em 1973, pelo governo militar (tinha destas coisas naquela época, acreditam ?), chamada Céu Pais foi lançada só agora. Meio tétrico é o fato de Gonzaguinha ter falecido em 1991 e nunca gravado esta música. Mais, ela foi lançada com a sua própria voz e postada no You Tube, como parte de ima campanha publicitária.
Os produtores realizaram uma mistura de técnicas a partir da reconstrução da voz do próprio cantor. Para isso, recortaram palavra por palavra de materiais gravados em vida, como entrevistas, áudios e outros originais. Depois, a voz dele foi refeita com o suporte de outro cantor, que possui tom bem próximo. Confira o resultado:
O disco vale pelo repertório, 25 clássicos desta trinca de ases de ouro da MPB. É às vezes triste perceber que as vozes de Gal e de Milton, antes dois ícones exatamente por causa da sua qualidade vocal, estão muito abaixo do que eram. Nando Reis segura as pontas em quase todas as faixas. Apesar disto é diversão pura escutar “Palco; Baby; Esotérico; Refavela; Lately, Dois Rios, O Segundo Sol” entre outras.