Os incriveis anos 70: Como assim o seu ídolo é Miles Davis ?

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Esta recordação dos anos 70 envolve o meu primo Vinicius, que deve estar nos lendo. Corria o ano de 1974 e Vinicius, que morava em São Paulo, veio passar um pedaço de suas férias de final de ano conosco, aqui em BH. As férias foram ótimas como sempre, mas havia alguma coisa perturbando Vinicius naquele ano. Miles Davis iria tocar em São Paulo em maio e Vinicius, que era um fã alucinado do genial trompetista, queria garantir o seu ingresso. A todo custo Vinicius tentava dividir conosco a sua angústia, mas para nós ela era incompreensível !

Vivíamos, naquela época, no bairro Santo Antônio e tínhamos, como bons adolescentes, um grande grupo de amigo

s que amava música, mas a música que amávamos mal chegava aos Beatles e aos Rolling Stones, estava mais para as músicas dos one hit makers dos anos setenta do que propriamente para o rock (confesso que eu escutava Jimi Hendrix escondido, mas  tinha vergonha). E tome Bread, Lobo, Shocking Blue, Majority One, Dawn, Tony Orlando e qualquer coisa que nos fizesse dançar.

De repente, aparece um carinha, da nossa idade, e se mostra perturbado porque não tinha conseguido comprar ingressos para um show de jazz ? Jazz? Música de velhos… É claro que fiquei curioso, e, depois que Vinicius voltou para casa, assim que pude,  fui conhecer o tal de Miles. Não era fácil. Não havia internet, nenhum amigo tinha discos de Miles, as suas músicas não tocavam no rádio, mas, graças aos shows em São Paulo, pude enfim encontrar alguém que me permitisse gravar em fita cassete algumas músicas de Miles. E o Miles que eu conheci  então me deixou de queixo caído.

Aquilo era jazz ? Como assim, o cara estava no auge da fase que “podemos definir como refusenik-kraut-funk-meditativa-psicodélica.Se você não faz ideia do que eu estou falando, mas já escutou Can ou Amon Düül II no início de c

arreira,” ou a Mahavishnu  Orchestra de John McLaughlin, vai entender do que estou falando.

 

miles-davis

O trecho a seguir e alguns outros deste post foram tirados de um post de 2015 de Vinicius Damázio (não é o meu primo, apesar da coincidência de nomes) para o Destroy All Music :

“Miles nesta altura levava as suas experimentações  ao limite, abandonando as estruturas em acordes, em favor do ritmo. Os timbres de órgão, herdados do Sly Stone, também ganharam destaque. Falando nele, há uma lenda de que o Miles apareceu na casa do Sly e começou a tocar vários clusters loucos no teclado. Sly, que foi criado em coros de música gospel, o expulsou aos gritos de motherfucker por estar tocando “voodoos” na sua casa. Acho que a história já dá uma ideia do que se tratam esses discos.”

Claro que a turma do jazz tradicional abominou as maluquices de Miles e desprezou sua nova produção. Mas, hoje podemos dizer que, embora de difícil digestão, ela foi uma das fases mais criativas da moderna música americana e influenciou toda uma geração de músicos, tanto de jazz, quanto de rock em todo o mundo. Nascia definitivamente a coragem de criar fusões – jazz-funk, jazz-samba, rock-funk, kraut rock-jazz, salsa-jazz – tudo passou a ser permitido – Miles dera o aval.

“Em São Paulo, a escalação do octeto tinha além de Miles, Pete Cosey (guitarra), Reggie Lucas (guitarra), Dominique Gaumont (guitarra), Michael Henderson (baixo), Al Foster (bateria), Mtume (percussão) e Dave Liebman (saxofone). O setlist foi similar a outros da época: “Funk [Prelude, part 1]”, “Ife”, “Turnaroundphrase” e “Tune In 5”. Eles tinham acabado de tocar no Rio, nos dias 23, 24 e 25, e repetiram a dose em São Paulo nos dias 31 de maio e 1º de junho. Charles Mingus passou pelo país no mesmo ano.”

Se você tiver curiosidade de saber como foi o show, o Vinicius do Destroy All Music diponibilzou um link para download de uma versão em 320kbps. Uma das faixas executadas em Sampa pode ser escutada abaixo:

 

 

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