Série : Ouvir Jazz – Post 3 – CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DO JAZZ

A africanização da música nas Américas, trouxe consigo características marcantes, percebidas hoje em vários gêneros musicais (jazz,blues,rock,gospel,funk). Escravos africanos, exilados, tinham, na lembrança dos rituais tribais, a única forma de contato com a terra natal. Estes elementos, aos poucos fundiram-se à música europeia. Na música africana:

  • O cantor (ou líder espiritual) canta, chama a plateia para uma resposta em contracanto.
  • Música e dança correlacionam-se intimamente. Habitualmente, o africano, “entende” a música como ligada ao um tipo de dança (ritual)específico.
  • Introdução de instrumentos com o mesmo timbre da voz humana: tambores,mbira (uma série de dentes metálicos ou barras de metal arrancadas, montado sobre uma placa de som de madeira); tanbur (instrumentos feitos de madeira com pescoços longos e corpos de ressonância); conchas.
  • Uso de conchas, pedras, peles de animais, varas, armas, ferramentas, rodas, usados como tambores, chocalhos, raspadores, gongos, palhetas, placas de percussão e até o corpo humano (palmas especialmente), para marcar o ritmo.
  • Capacidade de construir várias camadas de padrões rítmicos resultando em polifonia percussiva. Na música americana, apreciada desde o ragtime, o bebop, até os ritmos do jazz de vanguarda.
  • Ligação ritmo, trabalho. A tradição africana enfatizava o trabalho árduo, ridicularizando a preguiça. Embora, oprimida, escravizada, os negros utilizavam a música, o ritmo para marcar o trabalho.
  • O blues, por outro lado,surgiu como forma alternativa, de lamentar fome, opressão, pobreza, saudade, desejo, sempre de maneira lúdica, sem auto piedade ou recriminações.

Com vários elementos comuns com a música americana e europeia mediterrânea, fica mais fácil entender a facilidade do jazz de fundir, ser amado e aceito mundialmente.

 

Um exemplo africano onde aparecem vários das tendências citadas acima já fundidas com elementos europeus:

Outro exemplo de percursão, polifonia e dança no jazz:

 

Série : Ouvir Jazz – Post 2 – New Orleans

Canal Street, 1857

ANTECEDENTES HISTÓRICOS:

 

 Jazz nos lembra Nova Orleans, localizada no estado da Louisiana, sul dos Estados Unidos. Para esta nossa série, procurei entender o porquê de um local tão específico.

  • Em 1764, com pouco mais de 50 anos de fundação, Nova Orleans, então francesa, foi cedida pela França à Espanha.
  • Em 1800 o imperador Napoleão Bonaparte reintegrou Nova Orleans à França
  • Logo a seguir, em 1803 ele vendeu por U$15 milhões, ao governo americano, o restante dos territórios na América do Norte, ainda pertencentes à França.
  • Esta venda incluiu a Louisiana francesa que correspondia ao território de 13 dos atuais estados americanos: Louisiana, Arkansas, Missouri, Iowa, Dakota do Norte, Dakota do Sul, Nebraska, Kansas, Wyoming, Minnesota, Oklahoma, Colorado e Montana.
  • O preço final, computados os juros, em valores da época: U$ 27.267.622 por 2.144.500 km² (R$12,72 por km²)
  • Obviamente Nova Orleans passou a pertencer aos Estados Unidos.

Como resultado imediato, Nova Orleans, um porto de frente para o Caribe, já habitada nesta época por imigrantes europeus, majoritariamente latinos (franceses, espanhóis, mexicanos), tradicionalmente mais tolerantes às misturas raciais e culturais, mas também por italianos, escoceses, irlandeses, passou a receber levas de imigrantes africanos. Eles vinham dos próprios Estados Unidos, escravos libertos, após a guerra civil, mas também do Caribe, fugindo do conflito civil em Hispaniola.  Além disto, os africanos expatriados não vinham de uma única região geográfica trazendo consigo influências e culturas diversificadas, tanto africanas, quanto já de misturas adquiridas no exílio.

Este acaso, produziu um caldeirão cultural exótico, uma mistura de culturas e ritmos europeus, caribenhos e africanos, resultando no aparecimento não apenas do jazz, mas também do cajun, do zydeco e outros ritmos locais.

Escute uma amostra de cajun e uma de zydeco: é possível distinguir influências espanholas,francesas, mexicanas, caribenhas e puramente africanas:

Cajun

 Zydeco

Série : Ouvir Jazz – Post 1

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Crédito: Nobody Asked Us To Do It, painting by Hector Gomez

(caricature of UI Jazz Band)

Não há uma explicação convincente de como surgiu o jazz. O fato de sua aceitação mundial, sua fusão com diversos outros ritmos, tão diversos como o samba, músicas africanas, orientais, só alerta para a sua significância. Durante algum tempo ele permaneceu adormecido, hibernando nas vitrolas de ouvintes de gerações mais velhas. Agora os mais jovens se interessaram pela sua riqueza melódica e querem saber mais sobre sua história, seus ícones, o seu significado.

Recebi um desafio: criar dentro do Vitrola dos Sousa,  uma pequena introdução, permitindo aos novos ouvintes conhecerem melhor a sua riqueza, mas obedecendo ao nosso estilo de pouco texto e muita música (afinal somos uma vitrola e elas tocam essencialmente sons).

Apesar disto, vou iniciar com uma sugestão literária. Quem melhor me permitiu entender o jazz foi um livro: Jazz, escrito pela escritora americana Toni Morrison. Nele, ela recria o ambiente urbano, em que o jazz se consolidou. A história se passa no Harlem, mas poderia ter acontecido em Belo Horizonte, no Rio ou em Paris. Se puderem leiam e a trilha sonora de nossos posts poderá ser melhor apreciada.

Só para aguçar o apetite:

Zimbo Trio – Quem Diria (é Jazz ou MPB?)

Jazz: Haruki Murakami fornece a trilha sonora para sua vida

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Feature image courtesy of Vinyloftheday.com

Amantes do jazz , esta playlist é inspirada nas músicas que o autor japonês Haruki Murakami cita nos livros dele. Supostamente ele tem mais de 10.000 discos de vinil em sua coleção privada. Aqui ele disponibiza mais de 3442 faixas no Spotfy. Achei que você fosse gostariam.

SOBRE MURAKAMI

Nascido  em Quioto , filho de um sacerdote budista com a filha de um comerciante de Osaka, com os quais aprendeu literatura japonesa. Passou a maior parte de sua juventude em Shukugawa (Nishinomiya), Ashiya e Kobe.Frequentou a Universidade de Waseda, em Tóquio, dedicando-se sobretudo aos estudos teatrais. Antes de terminar o curso, abriu um bar de jazz chamado Peter Cat, à frente do qual se manteve entre 1974 e 1982.

Em 1986, partiu para a Europa e depois para os EUA, onde acabaria por se fixar.Escreveu o seu primeiro romance – Ouça a canção do vento – em 1979, mas seria em 1987, com Norwegian Wood, que o seu nome se tornaria famoso no Japão.

Murakami é aficionado em esportes de resistência: participa de maratonas e de triatlos, embora só tenha começado a correr depois dos 33 anos. No dia 23 de junho de 1996 completou sua primeira ultramaratona, uma corrida de 100 quilômetros ao redor do lago Saroma em Hokkaido, Japão. Aborda sua relação com o esporte no livro Do que eu falo quando eu falo de corrida (2008). (de Wikipedia)

Homenagem: Al Jarreau

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Alwyn Lopez Jarreau (Milwaukee, 12 de março de 1940 – Los Angeles, 12 de fevereiro de 2017),

Nunca é tarde para uma homenagem. Mais um gigante, agora do jazz, nos deixou neste início de ano. Aqui vai a nossa homenagem:

 

Discografia

  • The Masquerade Is Over – 1973
  • We Got By – 1975
  • Glow – 1976
  • Look To The Rainbow – 1977
  • All Fly Home – 1978
  • This Time – 1980
  • Breakin’ Away – 1981
  • Jarreau – 1983
  • High Crime – 1984
  • Live in London – 1985
  • L Is For Lover – 1986
  • “Heart’s Horizon” – 1988
  • Heaven and Earth – 1992
  • Tenderness – 1994
  • A Twist of Jobim – 1997 (vocal em “Girl from Ipanema” e “Waters of March”)
  • Tomorrow Today – 2000
  • All I Got – 2002
  • Accentuate the Positive – 2004
  • Givin’ It Up (with George Benson) – 2006
  • Christmas – 2008
  • Al Jarreau and The Metropole OrkestLIVE – 2012
  • My Old Friend (Celebrating George Duke) – 2014

Premiações no Grammy Award

  • 1978 Best Jazz Vocal Performance, Look To The Rainbow
  • 1979 Best Jazz Vocal Performance, All Fly Home
  • 1982 Best Male Pop Vocal Performance, Breakin’ Away
  • 1982 Best Male Jazz Vocal Performance, “(Round, Round, Round) Blue Rondo A La Turk”
  • 1993 Best Male Rhythm & Blues Vocal Performance, Heaven And Earth

Vitrola ao Vivo: Joss Stone – Stoned at Luna Park, Argentina, 2015 (Full Concert)

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Os nossos Vitrola ao vivo são de shows altamente selecionados – pode assistir sem susto. Muito bom !

Set List
♪ You Had Me
♪ Super Duper Love
♪ Molly Town
♪ Wake Up
♪ Could Have Been You
♪ Star
♪ Love Me
♪ Music / Jet Lag
♪ Stuck On You
♪ I Put A Spell On You
♪ Karma
♪ Harry’s Symphony
♪ Fell In Love With A Boy

[A cappella]
♪ Don’t Cry For Me Argentina / The Chokin’ Kind / Less Is More / Teardrops

♪ Landlord
♪ Right To Be Wrong
♪ Some Kind Of Wonderful

Jazz Round Midnight:Cameron Mizell & Charlie Rauh – A Song About A Tree (2016)

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Nestes últimos dias temos escutado um bocado de jazz e blues aqui em casa e estamos sempre escutando algo que não conhecíamos. Cameron Mizell é um guitarrista de Nova York que tem recebido muitos rótulos na indústria do jazz :  como um artista de gravação, como um insider  para o selo Verve Records, como guitarrista de palco, para musicais da Broadway e como acompanhante de vários grupos latinos ao redor da cidade. Ele fez sua primeira gravação em 2004 como o líder de um conjunto de oito peças, e em 2015 ele lançou seu primeiro álbum solo, uma esplêndida coleção de originais intitulados The Edge Of Visibility. Apreciem a guitarra de Cameron, aqui acompanhado por Charlie Rauh outro guitarrista de destaque na cena nova-iorquina. 

Jazz Round Midnight:Grace Kelly : Blues For Harry Bosch (Mocean Worker Remix) 2016

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Blues For Harry Bosch é uma faixa no novo CD de Grace “Trying To Figure It Out”, escrito e produzido por Grace Kelly ilustra perfeitamente o conceito  de retro-jazz embora sejaccompletamente contemporânea. Um bom exemplo desta talentosa nova artista.

“Blues For Harry Bosch” foi escrito para seriado indicado ao Emmy, BOSCH, lançado 11 de março na Amazon Prime, em que Kelly aparece como ela mesma

Jazz: Esperanza Spalding: What A Wonderful World (2012)

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A fantástica Esperanza em um lindo cover “What a Wonderful World” , uma canção escrita por Bob Thiele e George David Weis,  gravada pela primeira vez na voz de Louis Armstrong e lançada como compacto no início do outono de 1967. A intenção era que a música servisse como antídoto ao carregado clima racial e político nos Estados Unidos (foi escrita especialmente para Armstrong e o atraiu), a canção detalha o deleite do cantor pelas coisas simples do dia-a-dia. A música mantém, também, um tom esperançoso e otimista em relação ao futuro, incluindo uma referência aos bebês que nascem no mundo e terão muito para ver e aprender.Esta canção, inicialmente, não obteve êxito nos Estados Unidos, onde vendeu menos de 1000 cópias, mas foi um grande sucesso no Reino Unido, onde foi uma campeã de vendas em 1968.Em 1988, a gravação original de Louis Armstrong de 1968 foi apresentada no filme Good Morning, Vietnam, e foi re-lançada como single, alcançando a posição número 32 na Billboard Hot 100 em abril daquele ano.

 

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