Nesse áudio, o próprio locutor Jorge Marcio relembra sua trajetória de sucesso no rádio de BH, nas décadas de 70 e 80.
Com o perdão da ousadia, Ana Paula, decidi publicar o seu comentário sobre o seu pai. Lindo e comovente, acho que ele interessa a todos nós, fãs eternos da Rádio Cultura e em especial de seu amado (por todos nós) pai. Obrigado por compartilhar conosco.
Por Ana Paula Damasceno Torres – filha Jorge Márcio
O silêncio nos aproxima de pensamentos intensos, torrencialmente sóbrios, nos convida a refletir a respeito do que viveu e nas perspetivas. O que fazer de diferente para colher frutos melhores do e para o ser humano? Eu trabalho desde os 16 anos e amo estar em atividade, estudando, girando a energia do mundo. Minha energia inquietante me ajudou a buscar cedo preencher o vazio da juventude sem condições financeiras de sonhar e experimentar o mundo.
Meus pais tiveram 9 filhos. Seu Jorge, radialista assalariado, Dona Marlene, dona de casa. Todos os filhos estudaram em escola pública e fizeram faculdade incentivados por eles a buscar a única oportunidade de mudança que vislumbravam. Aprenderam cedo o valor e a importância do próprio esforço, do respeito e amor ao outro, da compaixão e do companheirismo. Os 9 filhos escolheram as ciências humanas. Sobrevivência e inteligência emocional. Um irmão sempre ajudou o outro.
Há alguns anos meu pai foi assaltado e quase morreu. Ficou semi cego, perdeu os movimentos do corpo e da mente. Era um radialista criativo, alegre, de imenso e doce coração. Ele tinha muitos amigos de profissão – trabalhou mais de 35 anos coordenando e atuando em rádios do país – mas depois do acidente trágico, três únicos amigos de trabalho foram visita-lo em casa. Seu Jorge contou com o amor da família e se reabilitou superando as expectativas dos médicos.
Seis anos após a tragédia com ele, a vida o colocou em provação novamente. Sua filha mais velha, na época com 35 anos, foi morta por um adolescente drogado porque se assustou com um assalto. Seu Jorge baqueou, mas conseguiu seguir. Sua família não desmoronou porque se amava demais. Ao contrário, se uniu, reconstruiu suas relações com amor e cumplicidade. Seu Jorge e Dona Marlene têm, hoje, 16 netos.Essa reflexão chega no momento em que leio o livro “O Homem que Amava os Cachorros”, um romance que relata o exílio de Trotsky. Excelente! Quando a maturidade chega você se vê rodeado por valores desconhecidos, enxerga suas raízes e se vê mais forte. Estou reflexiva, não triste, nem feliz, apenas pensando que o ser humano é complexo, demasiadamente complexo.