João Gilberto do Prado Pereira de Oliveira OMC (Juazeiro, 10 de junho de 1931 — Rio de Janeiro, 6 de julho de 2019)
Acho que todo mundo já escutou e leu muito sobre João Gilberto nestes últimos dias, mas um blog como o Vitrola dos Sousa que ama a música, principalmente música de qualidade, não poderia deixar e prestar sua homenagem a este ícone mundial. Na primeira vez que prestei a atenção em João Gilberto eu tinha em torno de 18 anos e fiquei curioso com a letra de uma música que dizia:
“Rua Nascimento Silva, cento e sete
Você ensinando pra Elizete
as canções de canção do amor demais…”
A música era “Carta ao Tom” , de Vinicius de Morais, lançada em 1974. Ai eu pensei: como assim ensinando pra Elizete ? Afinal, conforme eu tinha aprendido com minha mãe, a Elizete Cardoso era a maior cantora brasileira, a diva da nossa música popular. Quem se atreveria ensinar a ela como cantar ? Era o maestro Tom Jobim , que insistia que Elizete entendesse como cantar junto daquele violonista, que a acompanharia em duas faixas (“Chega de saudade” e “Outra vez”) no disco, “Canção do amor demais” , gravado no início de 1958.
Elizete havia sido convencida por Vinicius e Tom a participar de um projeto de unir a música e a poesia dos dois em um disco. João, que se apresentava nas noites cariocas, havia impressionado Tom com sua batida diferente e ele o convidou para acompanhar Elizete em duas faixas do disco. A dificuldade era que Elizete cantava ainda de maneira convencional, com acentuação rítmica nas sílabas tônicas nos tempos fortes e abuso do vibrato. João havia simplesmente abolido esta técnica,simplificando o samba, mas através da utilização de uma harmonia mais sofisticada e mais densa. Por isto tiveram que ensinar a Elizete a esquecer do passado e cantar o samba da maneira que João tocava. Nascia a bossa-nova. Como explicou Vinicius em 1965:
“Um samba todo em voltas, onde cada compasso era uma queixa de amor, cada nota uma saudade de alguém longe. Mas a letra não vinha. Fiz 10, 20 tentativas. uma manhã, depois da praia, subitamente a resolução chegou. Queria, depois dos sambas do Orfeu, apresentar ao meu parceiro uma letra digna de sua nova música: pois eu realmente a sentia nova, caminhando numa direção a que não saberia dar nome ainda, mas cujo nome já estava implícito na criação. Era realmente a bossa nova que nascia, a pedir apenas, na sua interpretação, a divisão que João Gilberto descobriria logo depois (MORAES, 29/01/1965).
Estimulado por esta história é que eu procurei por João Gilberto e o inclui entre os meus favoritos. O resto é saudade…
Álbuns de estúdio
- Chega de Saudade (Odeon, 1959) LP
- O Amor, o Sorriso e a Flor (Odeon, 1960) LP
- João Gilberto (Odeon, 1961) LP
- Getz/Gilberto (Verve, 1964) LP
- João Gilberto en México (Orfeon, 1970) LP
- João Gilberto (Philips, 1970) LP
- João Gilberto (Polydor, 1973) LP
- The Best of Two Worlds (CBS, 1976) LP
- Amoroso (Warner/WEA, 1977) LP
- Brasil (WEA, 1981) LP
- João (PolyGram, 1991) CD
- João Voz e Violão (Universal/Mercury, 2000) CD
Álbuns ao vivo
- Getz/Gilberto #2 (Verve, 1966) LP
- João Gilberto Prado Pereira de Oliveira (Verve, 1966) LP
- Live at the 19th Montreux Jazz Festival (WEA, 1986) 2LP
- Eu sei que vou te amar (Epic, 1994) CD
- João Gilberto live at Umbria Jazz (EGEA, 2002) CD
- João Gilberto in Tokyo (Universal Music, 2004) CD
- Um encontro no Au bon gourmet (Doxy, 2015) LP
- Selections from Getz/Gilberto 76 (Resonance, 2015) LP
- Getz/Gilberto 76 (Resonance, 2016) LP e CD
Sensacional !
Adorei rever esta versão original de Garota de Ipanema, na homenagem ao gênio João Gilberto! E, claro que acabou homenageando outros dois sensacionais -o grande maestro Tom e o poetinha Vinicius de Morais! Gratidão ao Vitrola dos Sousa!
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