Meu amigo Faustino postou hoje esta história e a sua interpretação para o clássico de Lamartine Babo. Vamos pegar uma carona, tá mestre Faustino:
“Conta-se que, em 1935, Lamartine Babo, que morava no Rio de Janeiro e estava no auge da sua carreira, recebeu uma carta de uma moça, Nair, de Boa Esperança, Sul de Minas, que lhe disse que era sua fã, que o admirava muito e que queria manter uma correspondência com ele.
Lamartine, atenciosamente, lhe respondeu agradecendo os elogios e lhe disse que aceitava, sim, manter uma correspondência com ela.
Alguns dias depois, nova carta da moça e nova resposta de Lamartine.
Mais alguns dias, outra carta e depois outra e mais outra e assim por diante.
Com o tempo, a correspondência foi avolumando-se e surgiu um clima amoroso entre eles. Pode ter havido, mesmo, uma paixão nas “entrelinhas”, segundo uma das versões.
Com mais de um ano de correspondência, Lamartine teria manifestado o seu desejo de ir à Boa Esperança para conhecer Nair, pessoalmente, quando ela lhe escreveu dizendo que iria se casar com um primo e mudar-se para São Paulo dando por encerrada, definitivamente, a correspondência entre eles e “que tudo não havia passado de um sonho impossível”, segundo uma das versões.
Mas, Lamartine não desistiu e, algum tempo depois, partiu para Boa Esperança ao encontro da amada, na maior aventura amorosa da sua vida.
Mas, lá chegando, qual não foi a sua surpresa…a moça não existia. Nunca existiu. Era um dentista da cidade quem, em tom de brincadeira, lhe escrevia.
O dentista, que era músico também, colecionava fotos de músicos e compositores famosos daquela época, utilizando-se deste recurso.
Ao perceber a angústia e o desalento do ilustre visitante à procura do seu grande amor na pequena cidade do interior mineiro, uma familiar do dentista, que morava no hotel onde Lamartine estava hospedado, contou-lhe toda a verdade.
Lamartine, diante da inusitada trapalhada, com paixão e toda a tristeza que se abateu sobre ele, não fez outra coisa que não compor uma das mais belas canções da música popular brasileira, música e letra, e deu-lhe o nome de “Serra da Boa Esperança”.
Lamartine conheceu o dentista e, sem ressentimentos, tornaram-se amigos.
A música foi gravada, pela primeira vez, em 1937, pelo grande cantor do rádio, daquela época, Francisco Alves.
Eu me lembrei desta história quando um colega de turma, da faculdade, me contou como a vida foi dura com ele e lhe trouxe tão grandes sofrimentos.
Fiquei comovido quando, no final da nossa conversa, ele me disse:
“Hoje eu sou um homem triste, mas ainda sou capaz de sorrir”.
Foi quando eu quis fazer um arranjo para esta música.
Nesta gravação, um pássaro insistiu em me acompanhar.
Eu parava de tocar, ele parava de cantar.
Eu voltava a tocar e ele, imediatamente, voltava a cantar.
Assim sendo, eu lhe disse: “Tudo bem. Então, vamos juntos, vida afora, levando a nossa música para quem dela quiser se servir.”
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