Memória: À eterna rádio Guarani FM de Belo Horizonte

Este comentário foi feito pelo nosso leitor Marcus Vinicius. Tomei a liberdade de publicá-lo, porque acho que todos deveriam lê-lo:

“À eterna rádio Guarani FM de Belo Horizonte

Hoje é 1º de maio e o feriado está cinza. Estou ouvindo Elis Regina, Chico Buarque, “The Doors” por MP3, e tentando aceitar a realidade. Perdemos muito ontem. Não somente uma ótima rádio que entendia de música de verdade. Perdemos cultura, perdemos voz, perdemos representação e perdemos como sociedade de uma forma geral. Espero que recuperemos…

Só ontem eu percebi o quanto essa rádio era importante, enquanto ouvia as últimas horas de sua programação. Foi como se um amigo estivesse partindo lentamente e só me restasse aproveitar cada segundo final. Ouvir os últimos 3 minutos (ouça no youtube) com nosso queridíssimo Luiz Fernando Freitas encerrando o “Noite no ar” com “The end / The Doors” me fez chorar como não fazia há anos, talvez desde a minha infância. Só aí me lembrei que a escutava há cerca de 20 anos (desde que comecei a ouvir rádio) e que ela esteve presente em muitos momentos bons da minha vida. Sempre que eu ligava o rádio, ele já estava sintonizado na 96,5 FM. Onde mais eu poderia escutar MPB de qualidade, Rock do bom, samba, música clássica, jazz, tudo isso salpicado com o melhor da Beatlemania??! A constatação de que isso realmente acabaria me deixou inconsolável. Espero que passe…

Esse contexto me fez pensar em quantos cinemas, teatros e rádios já perdemos para as religiões do capitalismo. Não sou ateu, mas também não tenho “carteirinha” de religião nenhuma. Me assusta a ideia fanática de delegar as decisões da minha vida a alguém, seja ele padre, pastor, médico ou qualquer outra coisa. Isso exige um nível de confiança alto demais, especialmente pros dias de hoje. Basta olhar a história da humanidade para ver o quanto as religiões provocaram guerras e manipulações de acordo com seus próprios interesses. Tendo isso em vista, procuro aprender o que elas ensinam de bom (e nessa parte todas dizem praticamente a mesma coisa: você colhe o que planta, faça o bem, ame o próximo, etc.) e tento não pensar nas coisas ruins que cada uma já fez. Mas, quando elas destroem justamente nosso patrimônio cultural, usando a força do dinheiro profano, o que era apenas antipatia se torna revolta. Espero que passe…

Na minha opinião, se religião é o que te religa a Deus, então a música é o caminho onde eu encontro isso com maior autenticidade. O silêncio que ficou após as 2 últimas horas do programa “Kacophonia” foi muito pesado, e chegou a doer lá no fundo com uma sensação de que não há mais espaço para o que é realmente bom nesse mundo. A ausência da Guarani essa manhã confirmou o quanto ela é insubstituível. Espero que voltem…”

Ps: No link abaixo está a despedida com os últimos 3 minutos da rádio ao vivo, com “The End” do The Doors. Muito bonito”

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