Concha Buika, natural de Mallorca, sempre me impressionou muito com sua voz forte e uma mistura de música africana, com flamenco e muitas pitadas de jazz. A audaciosa mistura de um violão flamenco com uma percussão meio africana, meio bossa nova, que serve de fundo para a bela voz de Buika entoar “Don’t Explain” originalmente gravada por Billie Holiday realmente não tem explicação, é belíssima e merece ser ouvida várias vezes por dia. Até a batida “Ne me quite pas“de Jacques Brel, gravada por quase todas as cantoras do mundo, ganha uma versão diferente e agradável. Sem dúvida um dos grandes lançamentos do ano. Fico pasmo quando dizem que não há música boa hoje em dia.
Melhores de 2013: # 94. Prefab Sprout – Crimson/Red
Bem vindo de volta Prefab ! Como quase todo mundo eu me apaxonei pelo Prefab Sprout em 1985, quando do lançamento do álbum Steve McQuenn , assim é com grande prazer que o Vitrola inclui, na sua lista de melhores de 2013, o retorno deste ícone dos anos 80. Paddy McAloon, agora com 56 anos, estava sem gravar desde 2001 e seu último lançamento, Let’s Change the World with Music de 2009, na verdade foi o lançamento de um álbum gravado originalmente em 1993 e não lançado na época.McAloon agora com deficiência visual e auditiva As canções são belas e artesanalmente produzidas, como a envolvente “Adolescence“, a melodiosa “The Dreamer” ou a refrescante “Old Magician”, ou ainda “Billy“apenas para citar algumas. É improvável que que amantes da boa música não gostem deste disco – mais um com alta rotação na nossa Vitrola.
Curta também a entrevista com Paddy McAloon:
Cashbox: Parada de 25/11/13
Top 25 Pop Music Songs
November 25, 2013
01 – Miley Cyrus – Wrecking Ball |
02 – Lorde – Royals |
03 – Avicii – Wake Me Up |
04 – Katy Perry – Roar |
05 – Eminem – The Monster ft. Rihanna |
06 – Demons – Imagine Dragons |
07 – Selena Gomez – Slow Down |
08 – Lady Gaga – Applause |
09 – One Direction – Story of My Life |
10 – Anna Kendrick – Cups ”When I’m Gone” |
11 – Justin Timberlake – TKO |
12 – Katy Perry – Unconditionally |
13 – Drake – Hold On We’re Going Home ft Majid Jordan |
14 – Bruno Mars – Gorilla |
15 – Lana Del Rey – Summertime Sadness |
16 – Zedd – Clarity (ft. Foxes) |
17 – OneRepublic – Counting Stars |
18 – Phillip Phillips – Gone, Gone, Gone |
19 – Macklemore & Ryan Lewis ft. Mary Lambert – Same Love |
20 – P!nk – True Love ft. Lily Allen |
21 – Maroon 5 – Love Somebody |
22 – Jason Derulo – Marry Me |
23 – Pitbull – Timber ft. Ke$ha |
24 – Rihanna – What Now |
25 – Travie McCoy – Rough Water ft. Jason Mraz |
CB Spotlight – Emeli Sande – My Kind of Love |
CB Spotlight – Icona Pop – All Night |
CB Spotlight – John Newman – Love Me Again |
CB Spotlight – Zedd – Stay The Night ft. Hayley Williams |
Melhores de 2013: # 95. Paul McCartney – New
É muito bom ver sir Paul, o velho Macca, aparecer em nossa lista como um dos melhores do ano. Quando muita gente podia apostar em acomodação, não é que o ex-Beatle mais queido do planeta apresenta um álbum delicioso. Nele Paul ora soa como Beatle, como em “Queenie Eye”, ora como Wings em “Aligator“, ora melódico como em “On my way to work“. Há ainda momentos de nostalgia, como a faixa título, na qual Paul faz uma homenagem a swinging Londres dos anos sessenta. Paul se mostra conectado com a música do século 21 ao trabalhar com produtores jovens, que dão um ar de frescura ao seu novo trabalho – “Save Us“tem o dedo de Paul Epworth, produtor de Adele e Foster the People, “Appreciate“o de Giles Martin, filho do lendário George Martin. Em fim um grande disco que não para de tocar na nossa Vitrola.
Rádio Cultura: a voz do porão – Entrevista com Geraldo Ferreira (Geraldão)
Graças ao nosso leitor Elton reproduzo aqui a entrevista com o Geraldo “Big Boss” Ferreira, feita para a publicação “Rádio em Revista”, editada pelo professor Fábio Martins, do Departamento de Comunicação Social (FafiCH/ UFMG).
Rádio Cultura: a voz do porão
Ele foi o “grande chefe” de uma história cujos principais registros estão na experiência e na memória de uma juventude que curtiu, fez e escutou rádio em Belo Horizonte do final dos anos 60 até o início dos anos 80. Geraldo Ferreira, o Geraldão, diretor da Rádio Cultura, é um dos ícones das nossas ondas sonoras. As histórias de emissoras como a Mundial, do Rio de Janeiro, nos anos 70, ou a rádio Cidade e o boom do FM nos anos 80 são mais conhecidas e, muitas vezes, idealizadas. Provavelmente por desconhecimento da dimensão e do significado da experiência da Rádio Cultura, AM 830, de Belo Horizonte. No final de dezembro de 2006, Geraldão nos recebeu para uma longa conversa, para remexer nas coisas no “porão”, como era conhecido o espaço da rádio quando funcionava no bairro Bonfim juntamente com a emissora-mãe do grupo, a Itatiaia. “É do porão que a vida sai”, diz. No apartamento, muitos discos, uma foto com Bob Marley, em 1977, outra apresentando Djavan a Gonzaguinha, Clara Nunes, Queen… Em 1969, Geraldo Ferreira virou boss quando se tornou diretor da Cultura. Em seguida veioo big, por conta de um vozeirão que ele considera um aleijão. Para quem pode viver e ouvir, será sempre o Geraldo “Big Boss’ Ferreira”.
Como foi seu início no rádio?
Comecei no rádio em 1963, em Montes Claros. Fazia um programa de estudantes, vinculado ao movimento estudantil. Era uma paixão desde pequeno. Em 1964 vim para Belo Horizonte, trabalhava em Montes Claros na ZYD-7 (Rádio ZYD-7, fundada em maio de 1944 pelo jornalista Jair de Oliveira. Depois a emissora passou a se chamar Rádio Sociedade do Norte de Minas.)também passaram os radialistas Daniel Barros e Eduardo Lima. Vim fazer faculdade, curso de mecânica na PUC, passei para arquitetura, pelo design, mas vi que não era a minha. Não tinha formação no rádio, eu era apenas um locutor qualificado, já na rádio Cultura, que era uma rádio “chique”, mais ligada aos clássicos. Havia uma opinião nessa época, uma miopia das pessoas do rádio, de que o rádio era mais voltado para rico e para pobre. A Cultura já era vinculada à Rádio Itatiaia e eu freqüentava a redação, foi a minha formação. No final dos anos 60 a Itatiaia era uma verdadeira academia do jornalismo, com gente como André Carvalho, Januário Carneiro, Gilberto Mansur, Fábio Martins, de formação de rádio. Ali fervilhava a essência do radiojornalismo, embrionário na época. E eu tinha paixão por aquilo, ficava entre a discoteca, o estúdio e a redação. Quando vim de Montes Claros iria para a [rádio] Mineira, mas um amigo falou da Cultura, “uma rádio que tá começando”, um formato interessante para época, uma rádio voltada para a classe A. Fiz um teste, fui aprovado e fiquei nesse compasso entre 1965 e 1969, na minha função de locutor, quando veio a oportunidade de gerenciar a programação da rádio. Eu era um locutor específico, apresentava os clássicos, programa de música erudita. Mas a minha formação cultural me autorizava a trabalhar com outras coisas, era um locutor diferenciado.
De onde vieram as primeiras idéias para pensar um novo formato de rádio?
Minha primeira paixão pela música foi a música erudita. Com a vinda para cá, a vida na universidade, comecei a ter contato com os movimentos da época, de freqüentar um grande momento do rádio que foi a fase da Itatiaia. Eu fui bebendo nessas fontes e antenando para outro tipo de som que estava florescendo na época – Bob Dylan, Rolling Stones, Joan Baez, que na rádio não tocava. Na Arquitetura eu comecei a ter contato com uma literatura, os malditos da época,[Jack] Kerouac (Escritor norte-americano que publicou “On The Road”, em 1957, considerada uma das principais referências da contracultura e obra inspiradora do movimento hippie.e outros) . Já havia um sopro de mudança no mundo, eu era muito ligado aos movimentos estudantis, isso tudo foi formando uma nova mentalidade de que era preciso um canal específico para comunicar, ter mais relação com essas coisas. Eu tive o privilégio de assumir a programação da rádio Cultura no final dos anos 60 e coincidiu com uma fase importante da música, a indústria fonográfica apostando em novos produtos em função dos movimentos jovens. Eu sempre tive contato com isso, sempre gostei de ver o que acontece na minha esquina e no mundo. Eu precisava arrumar uma maneira de levar isso para o rádio. A rádio Cultura tinha uma potência desprezível em relação às rádios da época. Ela pegava em alguns cantos da cidade. Eu não tinha uma amplitude de audiência, eu tinha guetos, que se comunicavam depois. Quando eu fiz essa opção para uma rádio jovem passei a ter dificuldades, rompi com um padrão – e isso me dá satisfação – que tinha uma qualidade fantástica na época (Itatiaia, Mineira, Atalaia, Guarani) e a Cultura conseguiu em pouco tempo romper com esse padrão.
No primeiro momento da rádio Cultura o eixo era essa produção musical, o lado B musical, um jornalismo voltado para temas pouco usuais?
E outros filões, por exemplo, ligar a rádio à Universidade. Coincidiu que o vestibular unificou e eu vi que poderia ter uma prestação de serviço. Eu via que quando saía o resultado do vestibular não unificado era uma fila nas bancas. Por que uma rádio não pode prestar esse serviço? Foram elementos que me ajudaram a formatar mais ainda a rádio, a fidelidade da audiência. A mudança foi radical. O ano foi 1969. Me parece que em maio de 1969, eu comecei a adotar uma nomenclatura musical nova. Era Santana, Led Zeppelin, era o fruto do Festival de Woodstock.
Como se deu a relação entre programas específicos e um novo público?
A rádio com esse formato jovem precisava se especializar mais. Uma experiência era fazer um programa mais jovem na faixa da tarde. Isso me animava porque o JB tinha uns cadernos, fazia umas prospecções na época e tinha uma pesquisa que dizia que a hora do lazer do jovem era mais ou menos à tarde. Eu vi com o tempo que essa foi uma faixa que consolidou uma audiência jovem, de duas às quatro horas. Uma outra observação era que a cidade dormia muito cedo, o rádio dez horas da noite já era “Boa noite!” Como eu atravessava a cidade – nessa época a rádio Cultura era na Gameleira, perto da Universidade Católica, transmissor e estúdio – eu via uma juventude na rua, experiência de colocar uma faixa mais pop que era à noite e ficou esse grafite sonoro muitos anos que era o “Ritmos da Noite”. Uma faixa de lançamentos, era um programa simples, um grafite sonoro calçado por uma grade de programação atualizada. Era ali que a juventude sabia que iria escutar pela primeira vez um Deep Purple.
A primeira vinheta já tinha a base do Creedence Clearwater Revival, que se tornaria famosa?
Eu não fiz isso sozinho, eu tinha parceiros, por exemplo o Paulinho Joel da HP [Studio HP]. O laboratório da Cultura era na HP. A minha idéia era fazer uma trilha que lembrasse um pouco a noite. Uma primeira opção foi o Led Zeppelin com “Communication Breakdown” (Música do álbum do Led Zeppelin de 1969). E eu gostava de usar a música respeitosamente, sem interromper, utilizando as próprias oportunidades que a música lhe oferece. Texto, voz e música sem interromper. Eu já tinha feito isto com o JJ Ligth no programa da tarde, recebi críticas (“mas a vinheta é maior que o programa”) -. (A música era “Heya”, do primeiro album de J J Light, ou Jimmy Stallings, em 1969, um músico que misturava folk, soul, rock, dentre outros gêneros. Com duração de mais de três minutos, compunha a vinheta do programa Hot Top, de 14 às 16 horas na Cultura. O refrão é inesquecível para os ouvintes:“Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey! Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey! I was there when the little kids were doing there: Hey-a Hey-a Hey ! Dancing around in a circle doing their snake dance: Hey-a Hey-a Hey ! Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey! Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey-a Hey!”). Era um cantor que não tinha expressão, que ninguém conhecia. Baseado nisso foi feita a [vinheta] com o Creedence, que é uma música soturna, fantástica, que não passa com o tempo (A música era “I Heard It Through The Grapevine”, que já fizera sucesso com o grupo Gladys Knight & the Pips em 1967 e com Marvin Gaye em 1968, mas se tornou antológica numa gravação do Creedence para o álbum “Cosmo’s Factory” de 1970.)
Você tinha dimensão do tanto que uma simples vinheta marcaria a emissora?
Eu já tinha essa consciência pelo “Cultura” que eu assinava no meio das músicas. Significava “eu tô aqui”. A Cultura era colada com a Rádio Mineira, que era uma rádio muito bem feita. [A Cultura estava na freqüência de 720 (a mineira nos 760), não nos 830 que depois marcariam a emissora]. Depois é que passou para um parâmetro mais confortável no meio do dial, aí saímos da Gameleira, já fomos para o porão. Já tínhamos uma audiência fantástica. A Cultura chegou a ter parâmetros de audiência nos anos 70 de 70% da audiência jovem, dos 15 aos 19 anos.
Que outras pessoas estavam nesse momento de “fundação”?
Dos primitivos, o Paulinho [Paulo Joel] foi o primeiro. Eu precisava criar coisas novas. Dentro do rádio não tinha essa cultura. E os parâmetros técnicos não me satisfaziam. Aí eu procurei o Paulinho ainda na Bemol, que tinha paciência e também era muito criativo, para me aturar na época. Eu tinha outros primitivos porque a escola de locutores que eu tive que criar era uma escola diferente. O locutor para mim não precisava falar muito, tinha que falar pouco mas com conteúdo. Então eu procurei criar um design na programação: você tinha que emocionar o ouvinte antes, preparar ele para o que ia ouvir. A minha programação não era digamos assim digestiva. Você ouvir um“Whole lotta Love”7 do Led Zeppelin duas horas da tarde… O cara chamava a atenção e no final falava o nome da música em português, que também era uma maneira de dar uma informação um pouco mais digerível, elementos que eu acho que o rádio não pode desprezar. O rádio tem sempre que estar um pouco a frente do seu ouvinte, estar sempre dando um conteúdo. Tudo que você aproveitar – uma hora certa, uma informação, um grafite – que eu gostava muito “A cultura faz isso para você”. “A cultura é jovem por que…”, se apoiar nas informações dos movimentos como o pacifista, traduzia as músicas de melhor conteúdo. Isso tudo faz você ficar um pouco a frente do seu ouvinte. Eu tive a felicidade de ter no jornalismo Antônio Achilis , Raquel Matos, Deusdeth Aquino, jovens que estavam entrando para a Universidade e que também estavam a fim de fazer coisas novas. E também na comunicação o Jorge Márcio.
O Geraldo era essa alma da Cultura e o Jorge Márcio a cara da rádio?
De cada locutor eu procurava decorar em que ele podia render. O Jorge, por exemplo, carinhosamente eu dizia para ele, “o Jorge é 1, 2, 3”. Em três palavras ele é perfeito, “seu rádio tá pegando fogo”. Ele não era um locutor de grandes extensões. Para isso tinha outros locutores, como o Paulo Leite. Chegou aqui do interior de São Paulo, tinha uma cultura mais de rádio esportivo e noticiário. Adaptei ele ao sistema de um rádio mais musical. A ele cabia a primazia das notícias. O Jorge Márcio incorporou-se a Cultura depois de 74. A Cultura levou mais ou menos uns dois anos para consolidar-se. Era aquela dificuldade; “rádio jovem, cabeludo, maconheiro, mau exemplo”, aquelas intolerâncias. Mas já para os anos de 1976 a Cultura já estava aceita. Foi quando veio o Jorge. Eu nunca tive a vaidade de ser um grande locutor. Eu sei que tinha uma voz diferenciada mas nunca tive a vaidade de ser estrela como o Daniel [Barros], por exemplo. Eu pensava e o Daniel ia interpretar aquela frase que eu criei. No caso, eram verdadeiros atores, eles interpretavam aquilo e realmente me aturavam. Eu sempre fui um perfeccionista, sempre achava que era possível melhorar à perfeição e as vezes não precisava. Mas isso foi bom para todos nós porque quando veio o FM eles viram que a gente estava na frente. O rádio que a gente fazia com dificuldade era mais ou menos esse rádio.
Além do Ritmos da Noite, tinha uma faixa da tarde…
Tinha uma vinheta, o Hot Top, a própria vinheta já marcava, “é a hora do cão”. A hora que o menino tomava conta. Eu sei o que era muito maldito na gravadora. Lá pelos anos de 1974 a Cultura passou a ser referência. Eu não podia tocar Roberto Carlos porque era o que todo mundo tocava. Na música brasileira houve um buraco negro nessa época, então eu tinha que procurar coisas novas: era Sérgio Sampaio, Tim Maia, Novos Baianos. A gravadora já ganhava dinheiro vendendo Moacir Franco e outros cantores populares bons pra caramba.
Como eram as instalações para fazer a rádio?
Vestia-se a camisa porque só assim consegue-se um sonho. A rádio já tinha condição financeira de importar um transmissor de qualidade, fazer uma instalação, eu escolhi o porão. Quando eu disse que ia para o porão o Januário [Carneiro] não admitia de jeito nenhum, só que ele não sabia o que eu ia fazer. É do porão que a vida sai, as grandes idéias. Aí foi a fase glamorosa da Cultura. Já não tinha aquele conteúdo belicoso, não competia mais a mim. No máximo o punk, Sid Vicious, mas eu já não tinha mais a obrigação, eu tinha um parâmetro grande na minha grade musical em que eu passeava tranqüilo. Lançamentos nacionais, rádio querida de cantores da época, Clube da Esquina. O Raimundo Fagner escolhia sempre a rádio para fazer seus lançamentos.
Como você orientava os locutores?
Eu passei a tirar proveito desses jovens que estavam comigo. O [Oliveira] Rangel era uma espécie de ficção, ele era gravado, o Jorge era ao vivo. Então ele deixava gravado “oi Jorge”, aí o Jorge respondia, tudo programado. E eu procurava botar conteúdo: “você viu o que aconteceu na Savassi…”, [notícias sobre] a liberação de um disco pela censura. Essas coisas ajudaram a abrir muito o caminho da comunicação do locutor, sair daquele negócio da hora certa. A programação que eu fazia tinha momentos que davam oportunidade ao comunicador de interagir mais com a audiência. O gueto em que o rádio estava não tinha o carinho das escolas de comunicação. As universidades têm hoje um pouco mais de carinho. Só pelo fato de ter nas universidades um professor como o Fábio Martins, que é um radialista e um jornalista, mostra isso. Antes você procurava o locutor pela voz e na verdade o cara era analfabeto. E o operador era o contrário, estava mais perto. “Olha, toda vez que tocar essa música você põe tal coisa”. Hoje é mais fácil, tem gente das escolas para trazer para o rádio. Não basta ter uma voz, a voz você pode disciplinar, são pequenas coisas que um diretor dá. A inteligência não, tinha que trazer informação. Hoje o pessoal está mais preparado. Na Cultura não, abria o microfone, tinha que estar escrito: “Top hundred Cash Box, posto 34, Gladys Night and Pips. Continua…” Às vezes você tinha um locutor de conteúdo, mas o operador tomava umas e chegava atrasado… Você tinha que ter um nível de tolerância muito grande para ter uma equipe. Isso às vezes era um pouco incompreendido. E eu tinha certa preguiça com isso, entrava na discoteca e procurava já ter ao meu alcance tudo quanto é disco. Eu pensava: “um dia eu tenho que ter uma máquina que me dá isso tudo”. Eu tinha que ouvir Milton Nascimento e marcar quantos segundos dava da música até ali. As vezes a música tinha que ser cortada porque o meu som era muito vagabundo, não dava para sair, o pessoal ia pensar que a rádio estava fora do ar. Eu já pegava na real: “atenção operador, limar a introdução, começar daqui”. Hoje a tecnologia te dá facilidade, te dá mais tempo para pensar, para criar.
Qual o peso você atribuiria para a improvisação no sucesso que a Cultura
A oportunidade você tem que dar, tinha um momento em que facilitava a criação. O Jorge era um ator. Eu dizia “o nome do grupo é Blood, Sweat and Tears”, aí ele ia treinando, procurava uma melhor maneira para falar. Às vezes aparecia uma cagada, mas apareciam também coisas maravilhosas, impressionantes. O noticiário nosso permitia isso, dependendo do talento. Eu me lembro do Bandeirinha [Geraldo Bandeira de Melo], hoje na Copasa, permitia criar uma notícia, não sei se ele, a Meire Zaidan, a Doris [Cherubino] . Tinha descoberto uma areia afrodisíaca, o cara foi fazer uma experiência e agarrou logo a secretária. Aí um cara ligou para mim e falou que tinha aquilo mesmo. O rádio precisa ter isso, precisa ter emoção. Esse factual está esquecendo uma coisa principal, a emoção. Tendo um bom locutor você pode criarcertas situações. O rádio está muito pragmático. É preciso esse carinho com a audiência.
A Cultura e sua forma de dirigir criou uma escola de locutores?
Não digo escola, não tenho essa pretensão, mas com certeza havia uma necessidade de reformular. O formato que eu herdei do rádio era maravilhoso, mas não servia para você trabalhar com outro tipo de música. Eu tive dificuldades com essa geração, alguns não entendiam, achavam que eu estava excluindo, “o Geraldão está achando que é o dono do mundo”, um cara veio da [rádio] Voz da América e quando viu o Jorge anunciar, falou “obrigado, tchau”, outros se recusaram. O título da música era traduzido, eu fazia questão que o cara entrasse dentro da música, interpretasse, é até um pouco de romantismo, mas não tirava tempo, falava em cima da música. Essa maneira foi uma base para o rádio contemporâneo. Primeira coisa: o cara não tem que inflexionar a voz, tem que ter charme. Eu falo grosso por causa desse aleijão. A Cultura foi uma base porque o mercado aceitou. Quando eu herdei o rádio era um varejo miserável. O Daniel [Barros] chegou vendendo com uma outra categoria, conversando com o ouvinte, uma locução mais interpretativa. Isso vem do Orson Welles. A rádio Cultura permitiu isso, uma forma de comunicar em que a voz não é o mais importante, mas a inteligência é o seu charme.
Qual a relação da rádio Cultura com as gravadoras?
As gravadoras passaram a ver a Cultura como veículo importante, aí eu fui ver a força que eu tinha. Além de mim, tinha uma rádio em Porto Alegre, a Continental. Eram rádios básicas para experimentos. Me deram um disco do Bad Company e deram para o rapaz de Porto Alegre o Bachman [-Turner Overdrive] Eu lancei o Bad Company numa noite e no dia seguinte uma loja, a Pop Rock, vendeu mil e quinhentos discos. O cara de Porto Alegre ficou tocando um mês o Bachman e não aconteceu nada. Ele me deu e com quinze dias “Hold Back the Water” estourou a banda. Aí o cara da gravadora me disse: “sua rádio é a mais importante do país”. Isso me deu parâmetros e a primazia de lançar discos, o Queen, por exemplo. Belo Horizonte sempre foi uma cidade jovem. Eu fico muito feliz quando vejo esses jovens hoje no palco, o Pato Fu. Eu já sonhava com isso naquela época. Aqui não tem muito lazer, a música aqui é coisa séria. Acho que hoje está faltando um pouco mais de carinho com a nossa música, principalmente o gueto da música instrumental. O rock daqui pra mim é perfeito, se hoje tivesse oportunidade faria um programa de duas às quatro só com material nosso, de qualidade fantástica. Você vê esses meninos, que eu ouço pouco mas acompanho, o Concreto, parece que você está ouvindo um rock da Califórnia. Belo Horizonte é uma
cidade fantástica para a juventude.
Havia a criação em parceria das vinhetas, dos discos Programa 1, Programa 2, Rádio Sucesso. Quando as gravadoras abriram para isso, eu fui a terceira a fazer. Já tinham lançado disco a Mundial, no Rio, e a Excelsior, em São Paulo. Fui convidado para fazer mas disse “só faço com material exclusivo”. Não ia fazer um disco de compilação igual ao que as outras rádios faziam. Na Mundial, afiliada da Globo, as gravadoras chegavam com a programação pronta. Falei não, a programação quem faz sou eu. Foi quando lancei o Cultura Programa 1, já lançando na época, e eu não tinha visão do sucesso que seria, o KC and Sunshine Band e outros grandes. Com o estouro do disco, que vendia em Belo Horizonte, eu cheguei a ser o segundo ou terceiro disco da companhia em venda. Aí as gravadoras todas assediavam a Cultura para fazer um disco e eu era muito correto com isso. Fiz um programa para São Paulo, uma cidade que me acolheu muito bem. Foi em São Paulo onde eu tive a maior receptividade ao meu trabalho. Eu falo que se você não for reconhecido na Paulista, não tem jeito. A Warner quando veio ao Brasil escolheu a Cultura como a rádio referência para lançamentos, o que me dá muito orgulho. E eu fiquei a frente das rádios paulistanas, na época já tinha Joven Pan e a Excelsior. Então a Cultura foi admitida em São Paulo pelo conteúdo de todo o meutrabalho e pelo desalinhamento musical que eu tinha de Rio e São Paulo. Com isso eu lancei depois o Rádio Sucesso, queria passar para o disco os momentos hilariantes que a programação tinha. Era a própria rádio. Aí conseguimos fazer uma programação de um disco fantástico, um disco curto, tinha algumas vinhetas da própria programação. E todo mundo tinha medo: “Geraldão, como é que o cara lá vai aceitar isso?” Perfeitamente, esse disco foi uma aceitação nacional. Chegava ao Rio e São Paulo e o todo mundo achou interessante.
E a discussão da mudança da emissora do AM para o FM?
O nome Rádio Sucesso era um grande sonho meu na época: desatrelar, logo no embrião dos FMs. Eu ia passar para o FM e deixar no AM Rádio Sucesso, que convinha muito. Já vinha trabalhando esse nome, Cultura Rádio Sucesso, que era para passar a Cultura como ela era para o FM e deixar uma rádio popular no AM. Isso não foi possível por questões empresariais. A Cultura tinha um sócio, e o Emanuel [Carneiro] e o Januário [Carneiro] ponderaram que na época não seria conveniente jogar a marca Cultura no FM. E talvez por falta de um pouco de vontade e também não havia necessidade, A Cultura, sendo AM, tinha uma audiência cinco vezes maior que as FMs. A Cultura chegou a brigar com a rádio Cidade, com a rádio Del Rey. A Cultura chegou a fazer uma chamada explicando porque não passava para o FM, dizia que era uma “freqüência colorida”. Me deu aborrecimento aquilo. Rádio é uma coisa só. Aí eu peguei uma pesquisa da Marplan e somei as audiências das FMs emergentes na época, embora eu tivesse consciência que precisava sair logo da faixa da AM, porque meu sonho era acender a luz do rádio FM. Também tinha importado um transmissor fantástico na época, a Cultura estava sobrando no dial, e eu brincando fiz esse texto. “Cultura AM, – dava a descrição do transmissor – “e ela sendo AM, ela faz questão de
não ser FM porque ela sendo AM, ela vai mais longe, chega mais perto de você com a sensibilidade e tal e tal”. E, além do mais, as cinco FMs somadas não chegavam à nossa audiência. O Januário, que era fantástico, gostava disso, falou: “põe no ar”. Eu pus erecebi uma reprimenda da Abert. Ele mesmo como presidente falou: “tira aquilo do ar porque os radiodifusores falaram: Januário, o Geraldão tá abusando…”
A não passagem da Cultura para FM naquele momento foi a morte daquela forma de rádio?
Eu mesmo falei: “o criador não pode apodrecer com a criatura”. Eu criei, morre comigo, para eu sobreviver e ter esse privilégio de estar aqui hoje com você. Se eu entro naquela do rádio AM da época eu não tinha valor nenhum. Ganhou, ganhou, quem não ganhou não ganha mais e eu vou sair. Eu mesmo tive a primazia de fazer a transposição da Cultura para rádio popular, eu devolvi a faixa AM para onde ela tinha que ir. Chegou a ter parâmetros de audiência confortáveis. Ela nunca foi primeiro lugar e nunca fiz questão de ser. Eu queria ser específico para aquele segmento, era uma rádio segmentada e eu pude introduzir outro tipo de locução, outro tipo de programação. Não era mais “Ritmos da Noite”, mas “Telefone Colorido”. Adaptei a faixa popular de qualidade e aí saí fora. Já tinha uma defasagem nessa época de três anos, eu não agüentava mais a [rádio] BH no meu calcanhar, a Del Rey. Aí abri a porteira, a maioria foi para a Rádio Cidade, a qualidade da Cultura autorizava isso. O Paulo Leite, o Jorge Márcio foram para a Cidade, o Zé Carlos foi brilhar na [rádio] 98 no Rio. O rádio AM musical não tinha futuro, como não teve.
Como você lidou com os ouvintes nesse período de transição? Certamente eles cobravam…
Foi terrível. Para onde estava o Jorge Márcio eu trouxe o Jorge Gomes, outro tipo de locutor. Esse foi um trabalho de engenharia e eu fiz com prazer. Eu estava desconstruindo e era um privilégio você desconstruir aquilo que você mesmo construiu. Como não foi possível eu passar a Cultura para o FM, “aquela rádio envenenada, zoada que você ouvia no 830 mudou de mala e cuia para 90,7 mas aqui você continua ouvindo…” – eu já tinha até essas vinhetas prontas. Eram duas rádios, uma dando suporte para outra, só que eu ia passar tudo porque eu tinha know-how e tinha equipe. A rádio Cidade não cresceria tanto como cresceu se eu tivesse passado. A programação dela não trouxe novidade nenhuma. Eu não tive possibilidade de fazer isso e o fator tempo em qualquer atividade é imprescindível. A defasagem da Cultura para a época foi de 4 anos, eu já não podia fazer mais uma ligação embora no início da [rádio] Extra euquis fazer. Era tentar pegar um pouco do que foi a Cultura, reativar, para depois procurar um outro caminho que eu queria.
Tem um texto histórico da Extra…
Que era um manifesto, um texto lido pelo Rangel, que estava fora de Belo Horizonte. A minha intenção na Extra, pelo fato de ter saído da Cultura dois anos depois, era reativar um pouco do porão. Eu fiquei na Cultura até 1984 e a Extra só entrou no ar em 1987. Eu não queria voltar para o rádio fazendo o dado, o consumido e o consumado, eu queria procurar uma nova prospecção, queria continuar um padrão de rádio de qualidade musical procurando um novo fio musical, porque depois dos anos 80 a realidade já era outra, era Legião Urbana, era Cazuza, queria fazer um outro tipo de rádio. Mas aí tinha outros problemas: fiquei dez anos como pioneiro, levar porrada de novo? A realidade era outra, a música da Bahia chegando. Aí, uma retirada me faz melhor do que assinar uma rendição ou uma capitulação. Não tenho muito a contribuir porque souincompetente no rádio “fubá”, o rádio para mim é conteúdo, é pensar.
Depois de três anos de Extra você tirou o time de campo?
Eu fiquei um ano na Extra. Eu vi que teria os mesmos aborrecimentos e as mesmas encheções de saco. Eu queria fazer um negócio diferente. Já naquela época eu já estava antenado com outros sons. Ainda uma rádio roqueira mas com outros conteúdos. Já não queria mais pré-vestibular, eu queria estar atrelado às universidades, esse era o grande mercado. Eu já queria ter um pouco mais de conteúdo, não era mais o disco para transmitir, era o show com o satélite. O Festival de Monterrey ou de Woodstock chegou para mim no disco, agora eu ia fazer ao vivo.
Qual o papel para rádio Cultura de eventos que ela organizava ou tomava parte, como Rock Horizonte e as gincanas?
Eu procurava ter interação com minha audiência, gostava de ver a cara de quem estava ouvindo. Eu sabia que tinha uma época em que eu estava muito forte na periferia, nos movimentos blacks da época. Então eu incentivava, não promovia porque não tinha dinheiro e a rádio não tinha interesse nessa área. Eu incentivava os promotores, criava o evento para eles e a rádio promovia. Eu tinha prazer de ver a cara da minha audiência. Teve uma época que a Rádio Cultura estava muito urbana e eu introduzi as gincanas e vi a audiência suburbana. Eu tinha uma tese de que a rapaziada era igual em todo lugar, você têm que dar é conteúdo para eles e não fazer pouco caso da sua inteligência. Um cara que mora numa periferia tem a mesma capacidade, é tão inteligente quanto o que estuda no Colégio Santo Antonio. Então eu fazia essa interação através das gincanas porque dava temas de conteúdo. Por exemplo, vamos tirar a ecologia da teoria para a prática: hoje vocês vão plantar uma praça. Chegava à prefeitura perguntava qual era a praça mais desprezível e partíamos para lá. O Zezito, cara fantástico, era quem me assessorava na época. O jovem participava, aprendia, saía satisfeito. Também na área de shows, apoiava os malditos, que não tinham acesso à grande mídia. O Rock Horizonte foi o primeiro grande show brasileiro da ditadura. Não podia fazer shows em determinados horários com determinados artistas. Em 1981 eu consegui fazer com alguns produtores. Era o meu sonho de levar para o meu público aquilo que a gente tocava. Tive a liberdade de fazer toda a programação: Sá e Guarabira, 14 Bis, Ponte Aérea, Raul Seixas, separei a Baby do Pepeu, porque eu sabia que o cara cantava. E o velho Raul, que eu tive o prazer de lançá-lo eu 1972 com o Ouro de Tolo acompanhei a carreira dele. Fez um show fantástico, e foi um embrião para outros shows. Na época, o Fantástico mostrou para o Brasil que Belo Horizonte tinha musicalidade. Na hora que abriu para o Brasil ao vivo estava no palco o Sagrado
Coração da Terra, com o Marcus Viana, músico fantástico. Eu sempre tive uma vivência e um carinho grande para com os músicos daqui, são sofridos, e pelas dificuldades que eu tinha em tocá-los na emissora, imagine nas outras.
A Cultura também sempre foi marcada por textos emblemáticos. Se a Extra começou com aquele manifesto, a Cultura tinha mensagens de fim de ano, coisas muitos elaboradas. Era você sempre?
Eu criava o mote. Chegava no fim de ano e você preparava a sua audiência “Faltam 28 dias para o Natal”, aí entrava o John Lennon, Grahan Nash. Quando chegava uma música de conteúdo que levava a juventude a pensar, a indagar, eu procurava traduzir e oferecia isto a minha audiência.
Quem fazia as trilhas?
Quando a Cultura teve acesso às grandes gravadoras, continuei tendo uma relação saudável com os produtos industrializados e procurava tirar proveito. Eu tinha mais amizade com os músicos do que com as gravadoras. O Tavito é que fez a vinheta do Natal. (“Quem não guarda uma imagem do Natal…” os antigos ouvintes não têm como esquecer ) A Cultura gravava em Dallas. Tinha um anunciante na Cultura, a Waikiki, que vendia pra caramba em BH e eles vieram para conhecer, tal a força da Cultura. O americano veio para ver. Ele ligou para a rádio, falou que tinha um estúdio em Dallas, que escrevesse que ele ia gravar… As vinhetas feitas aqui também eram maravilhosas, coisa do Paulinho [Joel]. Quando tinha movimento pela paz, ecológico, procurava trazer tudo para a rádio em forma de grafites.
Ficou algum registro, algum acervo dessa época da rádio Cultura?
O máximo que eu consegui guardar da época da Cultura foi o Disco Rádio Sucesso. Isso foi uma displicência. Eu não tive tempo de ter essa perspectiva histórica. Tinha que trabalhar de manhã para comer à tarde. E não tive o cuidado de preservar. E também não sabia que a gente ia ter essa importância. O momento da Cultura, ela pegou o vácuo, estava ali, teve a visão. Enquanto você está fazendo não tem essa perspectiva. Trinta anos depois é uma rádio que ainda tem um recall. Eu sempre sou solicitado para falar até fora daqui o que foi aquilo, como testemunho, como vivência. Falar de grandes artistas como Gonzaguinha, Djavan, essa turma que eu vi crescer. Eu não tenho nada. O [Studio] HP devolveu para a rádio, eu não estava lá mais e aí… O que mais me dói é o arquivo sonoro. Com a Cultura foram para a sepultura coisas fantásticas como a entrevista com Vinícius de Morais, uma entrevista de três horas, Caetano Veloso voltando do exílio, tinha oito horas gravadas com ele lá em Ouro Preto, momentosinusitados que eu tinha em fita. Também tive problemas de mudança, adoeci, ficou só na memória. O Jorge também é muito cobrado, porque ele que apresentava.
Geraldo Ferreira, Jorge Márcio, Oliveira Rangel, Zezito, todos radialistas negros. Nessa história da Cultura tem uma questão étnica ?
Acho que o negro tem que ter oportunidade. Está falando um diretor de uma rádio e eu nunca mais vi um negro ter o assento numa rádio como eu tive aqui. Eu sei como negro o quanto é duro chegar numa universidade, as intolerâncias. Se você não tiver conteúdo… A Cultura sempre vai estar no meu coração. Poucos homens fizeram aquilo que sonharam. O que me orgulha mais, além da pauta musical, da programação, foram as pessoas.
Os Melhores de 2013: # 96. Cícero – Sábado
Depois do disco de 2011 (Canções de Apartamento) ,em que mesclou referências dos Beatles, ao Radiohead de Thom Yorkee a Chico Buarque, ao Tropicalismo, Cícero Rosa Lins, natural do Rio de Janeiro, volta com seu novo álbum Sábado. O álbum é bastante introspectivo, até mais que Canções de Apartamento. O som é mais complexo, às vezes mais bossa nova, com instrumental mais sofisticado, e às vezes é até um pouco difícil de gostar, numa primeira audição. As melodias são minimalistas, o violão é suavemente dedilhado e as batidas secas. Há músicas boas por todo o álbum , com destaque para Ela e a Lata, Pra Animar, Bar e Por Botafogo e Porta Retrato. Gostei – mas tem que escutar mais de uma vez para saborear bem.
Memória: Cashbox Magazine
Nossos amigos que amavam a rádio Cultura AM 830 de BH devem se lembrar que a parada de sucessos da Cultura não era baseada na Billboard, mas na Cashbox. A Cashbox (or Cash Box) magazine foi uma revista semanal dedicada à música e às jukebox nos EUA, e que foi publicada de Julho de 1942, a 16 de Novembembro de 1996. Em 2006 ele foi revivida como edição online semanal e que só ocasionalmente publica um número impresso.
A Vitrola passará a publicar semanalmente a Parada da Cashbox, em homenagem aos bons tempos: Provavelmente o que a Cultura estaria tocando como Top Pop hoje em dia
Top 25 Pop Music Songs
November 11, 2013
Top 25 Pop Music SongsNovember 11, 2013 |
01 – Avicii – Wake Me Up |
02 – Lorde – Royals |
03 – Miley Cyrus – Wrecking Ball |
04 – Katy Perry – Roar |
05 – Robin Thicke – Blurred Lines ft. T.I., Pharrell |
06 – Lana Del Rey – Summertime Sadness |
07 – Macklemore & Ryan Lewis ft. Mary Lambert – Same Love |
08 – Lady Gaga – Applause |
09 – Robin Thicke – Give It 2 U ft. Kendrick Lamar |
10 – Anna Kendrick – Cups ”When I’m Gone” |
11 – Justin Timberlake – TKO |
12 – Katy Perry – Unconditionally |
13 – Drake – Hold On We’re Going Home ft Majid Jordan |
14 – Bruno Mars – Gorilla |
15 – Demons – Imagine Dragons |
16 – Zedd – Clarity (ft. Foxes) |
17 – Capital Cities – Safe and Sound |
18 – Phillip Phillips – Gone, Gone, Gone |
19 – Selena Gomez – Slow Down |
20 – P!nk – True Love ft. Lily Allen |
21 – Maroon 5 – Love Somebody |
22 – Jason Derulo – Marry Me |
23 – Enrique Iglesias – Heart Attack |
24 – Rihanna – What Now |
25 – Travie McCoy – Rough Water ft. Jason Mraz |
CB Spotlight – Emeli Sande – My Kind of Love |
CB Spotlight – Icona Pop – All Night |
CB Spotlight – Zedd – Stay The Night ft. Hayley Williams |
Melhores de 2013: # 97. Coutto Orchestra de Cabeça: Eletrofanfarra
De Aracaju, Sergipe, a Coutto Orchestra de Cabeça faz parte da nova safra da música instrumental do nordeste brasileiro juntamente com artistas como Anjo Gabriel, Burro Morto, Camarones dentre outros.
Formada em 2010, a micro-big-band faz a fusão da cultura dj com as diversas melodias e fanfarras mundo afora, absorve e traz para casa os cantos e ritmos tradicionais e pops como o tango, a cumbia, o balkan, as valsas, as marchas, o house e o jazz manouche e leva para o mundo o maracatu de brejão, a taieira, a marujada e o forró, para executar um caldeirão sonoro o qual entitula Eletrofanfarra.
No palco, seis instrumentistas linkam aparatos tecnológicos a sanfona, percussões, sopros, vozes e cordas para reproduzir melodias cativantes e batidas fortes. Canções sem palavras associadas a projeções e luzes, provocam uma sensação festiva e imagética em uma atmosfera urbana e enraizada na cultura das ruas. Com 02 Ep`s lançados (Micromúsica (2010)/ Aratu Milonga (2012)) a banda parte para lançar no início de 2013 o seu primeiro disco oficial, intitulado Eletrofanfarra. Atualmente a Coutto Orchestra vem ganhando destaque em importantes espaços do cenário da música brasileira como shows na Feira da Música (CE), BNB Instrumental (PB e PE), LAB Festival(AL), Palco Giratório (SE), Festival Sertão Mundo (PE) e participação em diversas coletâneas fisicas e virtuais como Bass Culture e Beyound (BM&A), Serigy All Stars (Disco de Barro), dentre outras. (site da banda)
Depois de figurar na nossa lista de melhores de 2012 com o EP Aratu/Milonga a Coutto Orchestra (# 47) se destaca outra vez. Impossível escutar a música da Coutto Orchestra sem se envolver. É um misto de música nordestina com música de circo, às vezes me lembrei do Cirque de Soleil, outras de cenas nordestinas como as da caatinga, ou de um filme de Cacá Diegues. Isto tudo com toques de tango, bandoleon , balkan, valsas lindas. Um misto de refinamento e bordel, pulsante, alegre, nostálgico, cinematográfico. Adorei este álbum. Pra mim uma das surpresas do ano.
Melhores de 2013: # 98. Pearl Jam – Lightning Bolt
Ok o Pearl Jam já foi melhor. Também acho, mas eles continuam grandes. Lightning Bolt é o mais recente álbum de estúdio da banda norte-americana Pearl Jam. Lançado em 14 de outubro de 2013, tornou-se o décimo disco do grupo. O primeiro single, “Mind Your Manners,” foi lançado em 11 de julho de 2013. “Lightning Bolt” segue “Backspacer” de setembro de 2009. O álbum foi produzido por Brendan O’Brien, que já trabalhou com a banda em outros discos, e será lançado pela Monkeywrench Records/Republic Records por meio da Universal Music. O quinteto de Seattle estava sem lançar um disco de estúdio há quatro anos, desde “Backspacer
Lightning bolt”, começa roqueiro e termina mais lento, o que talvez faça com que possamos achar nele tudo que gostamos no Pearl Jam . O bom e velho rock’n’roll corre solto em faixas como Getaway e Mind Your Manners (Juro que cheguei a lembrar do Deep Purple no seu auge, ao ouvir esta faixa). O guitarrista líder Mike McCready está em plena forma e arrasa nos solos de guitarra. Eddie Veder não deixa por menos e emociona tanto nos rocks quanto nas baladas. A linda Sleeping By Myself já nasce clássica, e por certo será lembrada no futuro pelos fãs da banda. Para nossa alegria o Pearl Jam é um dos melhores do ano, de novo.
Melhores de 2013: # 99 . Arcade Fire – Reflektor
Reflektor é o quarto álbum do conjunto canadense Arcade Fire, rlançado em outubro pela Merge Records. No formato de álbum duplo, Reflektor foi co-produzido pelo ex líder do LCD Soundsystem, James Murphy,e pelo produtor habitual do Arcade Fire , Markus Dravs,além da própria banda. O Arcade Fire talvez seja hoje uma das bandas que mais reúna as qualidades para se tornar uma megabanda nos moldes Coldplay ou U2. Canções não tão fáceis, bastante experimentais, que ora ressoam a Beatles, ora a the Killers. Uma mistura correta de experimentalismo, ousadia e pegada pop. sem dúvida um dos melhores do ano. A Vitrola recomenda.