Ernesto Júlio de Nazareth (* 20/3/1863 Rio de Janeiro, RJ + 4/2/1934 Rio de Janeiro, RJ)
Compositor. Pianista. Filho de Vasco Lourenço da Silva Nazareth (ex-despachante aduaneiro) e de Carolina da Silva Nazareth, nasceu em uma modesta casa no morro do Nheco, hoje morro do Pinto, no bairro da Cidade Nova, no Rio de Janeiro. Ainda na infância, sofreu uma queda que lhe afetou o ouvido direito, causando problemas auditivos que lhe acompanharam por toda a vida.
Sua iniciação musical foi feita por sua mãe, que era pianista e faleceu quando ele tinha apenas 10 anos. Estudou ainda com Eduardo Madeira (músico amador), teve algumas lições com Lucien Lambert, passando desde então a formar-se autodidaticamente.
Sua primeira música, a polca-lundu “Você bem sabe”, dedicada a seu pai, foi composta aos 14 anos de idade.Na ocasião, Eduardo Madeira levou-o ao pianista e editor Artur Napoleão, que a publicou entusiasmado com o novo ritmo. A partir de 1889, quando já se tornara Casa Arthur Napoleão e Miguez, passou a publicar também uma “Revista Musical e de Belas-Artes”. Situado na Rua do Ouvidor, o estabelecimento propiciou ao compositor travar valiosas relações com o mundo musical de então. Daí em diante, passou a ser um profissional do piano e da música.
Em 1886, aos 23 anos de idade, casou-se com Teodora Amália de Meireles, a quem dedicou o tango “Dora”, nome pelo qual era tratada na intimidade. O casal teve quatro filhos. Em 1907, foi nomeado terceiro escriturário do Tesouro Nacional, onde permaneceu por pouco tempo. Quando saiu do Tesouro Nacional, passou a viver exclusivamente de música, de aulas particulares de piano e de tocar em casas de música, de família e clubes.
Em 1918, o compositor perdeu sua filha, Maria de Lurdes, o que lhe causou grande abatimento. Em 1929, faleceu sua esposa. Por volta de 1932, passou a residir em Laranjeiras. Em 1933, após um longo processo de perda de audição, o compositor foi definitivamente vitimado pela surdez, fato que veio a causar-lhe perturbação mental e conseqüente internação no Instituto Neuro-psiquiátrico situado na Praia Vermelha e posteriormente na Colônia Juliano Moreira, situada em Jacarepaguá.
Em fevereiro de 1934, saiu para um passeio pelas alamedas do sanatório e, sem ser visto, fugiu, desaparecendo. Após alguns dias de busca, o corpo do compositor foi encontrado nas águas da Cachoeira dos Ciganos.
OBRA MUSICAL:
Um dos compositores de maior importância para a cultura brasileira, deixou obra essencialmente instrumental, particularmente dedicada ao piano. Suas composições, apesar de extremamente pianísticas, por muitas vezes retrataram o ambiente musical das serestas e choros, expressando através do instrumento a musicalidade típica do violão, da flauta, do cavaquinho, instrumental característico do choro, fazendo-o revelador da alma brasileira, ou, mais especificamente, carioca.
Na produção musical do compositor, destacam-se numericamente os tangos (em torno de 90 peças), as valsas (cerca de 40) e as polcas (cerca de 20), destinando-se o restante a gêneros variados como mazurcas, schottisches, marchas carnavalescas etc. É sabido que o compositor rejeitava a denominação de maxixe a seus tangos, distinguindo-se daquele fundamentalmente pelo caráter pouco coreográfico e predominantemente instrumental de sua obra.
- (1877) : aos 14 anos de idade fez sua primeira composição, a polca lundu “Você bem sabe”
- (1879) : escreveu a polca “Cruz perigo” (na verdade seu primeiro tango)
- (1880) : com 17 anos de idade fez sua primeira apresentação pública, no Clube Mozart.
- (1881) : compôs a polca “Não caio n’outra”, seu primeiro grande sucesso
- (1890) : publicado o tango “Cruz perigo” pela Casa Viúva Canongia e publicou uma nova polca, “Atraente”
- (1893) : a Casa Vieira Machado lançou uma nova composição sua, o tango “Brejeiro”, com o qual alcançou sucesso nacional e até mesmo internacional
- (1898) : primeiro concerto como pianista realizou-se , no Salão Nobre da Intendência da Guerra
- (1899) : primeira edição do tango “Turuna”
- (1905) : teve sua primeira obra gravada, o tango “Brejeiro” na Odeon pelo cantor Mário Pinheiro com o título de “O sertanejo enamorado”, com letra de Catulo da Paixão Cearense. A Banda da Casa Edson gravou seu tango “Escovado”, que fez bastante sucesso e a Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro gravou os tangos “Brejeiro” e “Turuna”.
- (1906) : o pianista Artur Camilo gravou na Odeon, ao piano, os tangos “Favorito” e “Escovado”.
- (1907) : participou de recital realizado no Instituto Naciona de Música, interpretando a gavotta “Corbeille de fleurs” e o tango “Batuque”. Na mesma ocasião, acompanhou o maestro Villa-Lobos na obra “Le cygne”, e Saint-Saens.
- (1910) : começou a se apresentar na sala de espera do Cine Odeon em homenagem ao qual compôs o tango “Odeon”
- (1912) : 1912, a Banda Escudero gravou na Odeon sua polca “Os teus olhos cativam”. Por essa época, o cantor Mário Pinheiro gravou, também na Odeon, seu tango “Favorito”, com letra de Catulo da Paixão Cearense. Ainda em 1912, gravou na Odeon uma série de 4 disco tocando piano com Pedro de Alcântara na flauta interpretando as polcas “Choro e poesia”, de Pedro de Alcântara e “Linguagem do coração”, de Joaquim Antônio da Silva Calado, e os tangos “Favorito” e “Odeon”, de sua autoria. Por essa época, a Banda da Casa Fauhaber e Cia gravou na Favorite Records sua valsa “Ouro sobre azul”.
- (1913): o Grupo dos Sustenidos gravou seu tango “Bambino”, o Quarteto Luiz de Souza, a polca choro “Correta” e a Orquestra da Casa Edson, o tango “Atrevido”, todos na Odeon.
- (1914) : teve publicada a polca “Apanhei-te cavaquinho”, que obteve grande sucesso.
- (1915) : 1915, a polca “Apanhei-te cavaquinho” foi gravada na Odeon pelo grupo O Passos no Choro gravou e pela Orquestra Odeon
- (1919) : empregou-se na Casa Carlos Gomes – mais tarde Carlos Wehrs – fundada por Eduardo Souto e Roberto Donati, com a função de executar músicas para serem vendidas
- (1921) : a Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro gravou na Odeon os tangos “Sarambeque” e “Menino de ouro” e a valsa “Henriette”. No mesmo ano, o maestro Villa-Lobos dedicou-lhe o “Choro nº 1” para violão.
- (1922) : a convite do compositor Luciano Gallet, participou de um recital no Instituto Nacional de Música, onde executou os tangos “Brejeiro”, “Nenê”, “Bambino” e “Turuna”.
- (1930) : concluiu sua última composição, a valsa “Resignação”. No mesmo ano, gravou ao piano na Odeon, a convite do diretor artístico Eduardo Souto a polca “Apanhei-te cavaquinho”, lançada no selo como choro e o tango brasileiro “Escovado”, de sua autoria.
Obra Musical:
A bela Melusina ,A flor dos meus sonhos ,A florista (c/ Francisco Teles),A fonte de Lambari ,Adieu ,Adorável ,Ai, rica prima ,Alaor Prata (c/ Maria Mercedes M. Teixeira),Albingia ,Alerta ,Alvorecer ,Ameno resedá ,Apanhei-te, cavaquinho ,Arreliado ,Arrojado ,Arrufos As gracinhas de nhonhô ,Até que enfim ,Atlântico ,Atrevidinha ,Atrevido ,Bambino ,Batuque ,Beija-flor ,Beijinho de moça ,Bernardo de Vasconcelos ,Bicyclette club ,Bom-bom ,Brejeira ,Brejeiro ,Caçadora ,Cacique ,Canção cívica Rio de Janeiro ,Canhoto ,Capricho ,Cardosina ,Carioca ,Carneiro Leão (c/ Maria Mercedes M. Teixeira),Catrapuz ,Cavaquinho, por que choras? ,Celestial ,Chave de ouro ,Chile-Brasil ,Comigo é na madeira ,Condor ,Confidências ,Coração que sente ,Corbeille de fleurs ,Correta ,Crê e espera ,Crises em penca ,Cruz, perigo! ,Cruzeiro ,Cubanos ,Cuera ,Cuiubinha ,Cutuba ,De tarde (c/ Augusto de Lima),Delicia ,Dengoso ,Desengonçado ,Digo ,Dirce ,Divina ,Dor secreta ,Dora ,Duvidoso ,Elegantíssima ,Elegia ,Elétrica ,Elite ,Encantada ,Encantador ,Ensimesmado ,Eponina ,Escorregando ,Escovado ,Espalhafatoso ,Españolita ,Está chumbado ,Eulina ,Expansiva ,Êxtase ,Exuberante ,Faceira ,Fado brasileiro ,Famoso ,Fantástica ,Favorito ,Feitiço ,Feitiço não mata (c/ Ari Kerner),Ferramenta ,Fidalga ,Floraux ,Floriano Peixoto (c/ Maria Mercedes M. Teixeira),Fon-fon ,Fonte do suspiro ,Fora dos eixos ,Fraternidade ,Furinga ,Garoto ,Gaúcho ,Gemendo, rindo e pulando ,Genial ,Gentes, o imposto pegou? ,Gentil ,Gotas de ouro ,Gracietta ,Guerreiro ,Helena ,Henriette ,Ideal ,If I Am not Mistaken ,Improviso ,Insuperável ,Ipanema ,Íris ,Jacaré ,Jangadeiro ,Janota ,Julieta ,Julita ,Labirinto ,Laço azul ,Lamentos ,Magnífico ,Mágoas ,Maly ,Mandinga Marcha fúnebre ,Marcha heróica aos 18 do Forte ,Mariazinha sentada na pedra ,Marieta ,Matuto ,Meigo ,Menino de ouro ,Mercedes ,Mesquitinha ,Miosótis ,Não caio noutra!!! ,Não fujas assim ,Nazaré ,Nenê No jardim ,Noêmia ,Noturno ,Nove de Julho ,Nove de Maio ,O nome dela, grande valsa brilhante ,O que há ,Odeon (c/ Vinícius de Moraes),Onze de Maio ,Orminda ,Os teus olhos cativam ,Ouro sobre azul ,Pairando ,Paraíso ,Pássaro em festa ,Paulicéia, como és formosa! ,Pedro II (c/ Maria Mercedes M. Teixeira),Pereira Passos (c/ Leôncio Correia),Perigoso ,Pierrô ,Pingüim ,Pipoca ,Pirilampo ,Plangente ,Plus ultra ,Podia ser pior ,Polonaise ,Por que sofre? Primorosa ,Proeminente ,Quebra-cabeças ,Quebradinha ,Ramirinho ,Ranzinza ,Rayon d’or ,Rebuliço ,Recordações do passado ,Remando ,Resignação ,Respingando ,Ressaca ,Retumbante ,Rosa Maria ,Sagaz ,Salve, nações reunidas (c/ Maria Mercedes M. Teixeira),Samba carnavalesco ,Sarambeque, Saudade ,Saudades dos pagos (c/ Maria Mercedes M. Teixeira),Saudades e saudades ,Segredo ,Segredos de infância ,Sentimentos d’alma ,Soberano ,Suculento (c/ letra de Netuno),Sustenta a nota ,Sutil ,Talismã ,Tenebroso ,Thierry ,Time is money ,Topázio líquido ,Travesso ,Tudo sobe ,Tupinambá ,Turbilhão de beijos ,Turuna ,Vem cá, branquinha ,Vésper ,Vitória (c/ José Moniz de Aragão),Vitorioso ,Você bem sabe ,Xangô ,Zica
Textos de Dicionário Cravo Albin da MPB